domingo, 10 de novembro de 2013

CRÓNICAS do Fim-do-Mundo 16 - Mais um ano que passou a correr

 Parece que foi ainda ontem a entrada do ano de 2013, naquele corropio de fazer votos para o ano que ia entrar, os desejos de que fosse um bom ano, cheio de saúde, de bem-estar, de sucesso, com todos os projectos a concretizarem-se, as fotografias da entrada do ano com o fogo de artifício na fantástica ponte do porto de Sydney, com a Opera House ali ao lado, as risadas dos milhares de transeuntes anónimos que, como eu e a Bianca, voltávamos a casa tranquilos, vivendo as primeiras horas do novo ano!

Pois, realmente parece que tudo isso foi ontem, mas foi há quase um ano atrás. Quase doze meses passaram já a uma velocidade vertiginosa, mastigando, triturando sonhos, projectos, alegrias e tristezas, planos bem concebidos, cheios de timings perfeitos e cálculos pensadíssimos, rigorosos, inabaláveis! A velocidade foi tão avassaladora que tudo, ou quase tudo se perdeu, alterou, esmagou e forçosamente se modificou. Meu Deus... será sempre assim?

Estamos a entrar nos dois últimos meses do ano e já se aproxima o 2014, o ano do cabalístico 7, o sete de 2+0+1+4 que, para tanta gente, é sagrado e sinal divino de prosperidade e boa sorte! Será mesmo? Tenho de perguntar ao meu querido irmão e amigo João Fernandes.

Faço votos de que sim, para todos os meus amigos e (permitam-me a particularização), em especial para a Bianca e para mim, que passámos quase todo o ano de 2013 num precipício de sustos e problemas de saúde com múltiplas análises, testes, operações, riscos vários, internamentos, idas a consultas, e com um saldo que se crê positivo... embora sem certezas!

I’m sick of it, que é como quem diz – estou farto, não quero mais, obrigado, já chega!    

Este ano de 2013 o Natal e o fim d’ano vão ser diferentes, como esperamos também que o 2014 seja calmo, saudável, afortunado e uma verdadeira pausa nos sustos! Julgo que ambos merecemos!

Vamos passar o Natal em Kyogle, a 8 horas de Sydney, por automóvel e a 3 horas de Brisbane. Iremos pernoitar nalgum motel a meio da viagem e em Kyogle vamos ficar em casa do André Madeira, um amigo português, agora com 27 ou 28 anos e cuja última vez que o vi, tinha ele seis anitos, foi num Natal, na Amadora, em casa dos pais dele, a Guida e o Quim, meus cunhados. Ela, a Guida, irmã da minha primeira mulher, a Dulce Pereira e ele, o Quim, à época recém formado em engenharia mecânica no IST de Lisboa.

Depois, eles vieram todos para Macau viver (chi... tão longe achámos nós...), a vida foi correndo, indiferente a ventos e tempestades. A Guida separou-se do Quim e permaneceu em Macau onde hoje é proprietária de um dos mais prestigiados Infantários daquela cidade que já não é portuguesa. O Quim casou-se com uma tailandesa e tiveram uma filhota, a Maya, hoje com 20 anos e autêntica Miss Mundo, de linda, misturando a beleza lusitana e o exotismo oriental. Suponho que também vivam em Macau.

O André foi para Timor por uma temporada, fazer voluntariado após a guerra civil daquele antigo território português, onde conheceu uma simpática australiana, a Sarah, cujo pai é o maior produtor de árvores de fruto da Austrália.

A diáspora reencontra-se e a Consoada deste ano vai religar esta gente toda, mais uns quantos que se nos juntarão vindos de Lisboa. Vai ser com bacalhau, pois claro, cozinhado pela Guida à boa maneira de Portugal, com os condimentos todos, como mandam as regras e nós (eu e a Bianca) levamos os vinhos daqui de Sydney, vinhos brancos e tintos produzidos nesta magnífica terra australiana que produz já os melhores vinhos do mundo... para que se saiba! Também levamos o belo do nosso Vinho do Porto – que é lá isso de comemoração sem um Porto Ferreira?

O fim d’ano, já irá ser de novo em Sydney, aliás, perto, em Wollongong, longe da confusão, em casa de amigos e com as subidas às cadeiras com as doze passas nas mãos,como manda a tradição! Desta vez alinhamos naquela da tradição ser ainda o que era, que eu não vou cá em futebóis...

E por falar em futebol, permitam-me uma acha na fogueira: está tudo maluco com as afirmações do senhor Joseph Blatter por causa do Cristiano Ronaldo, mas eu juro-vos que não fumei nada de esquisito, ouvi o que o homenzinho disse e ele nem falou no Ronaldo. Só falou no Messi e no outro... que até podia ser o Benzema... ou o Fernando Torres... ou o Beckham! Por que raio é que, com o país em crise profunda, o povo se levanta todo preocupado com a aterosclerose do Blatter, na convicção de que ele acusava o madeirense? Não haverá por aí algum pretensiosismo colectivo? É que até o governo, através do ministro de estado Marques Guedes, decidiu repor a honradez nacional! Tá tudo maluco?

Venha o 2014 e vamos ver se a selecção do Galo de Barcelos estará presente no país-irmão para fazer de conta que está a disputar o Mundial de Futebol! Cá para mim, melhor será que nos preparemos para o pior e ficar a lamber as feridas e... ver a Suécia carimbar o bilhete para o Rio de Janeiro!

Lou Reed e algum Provincianismo do pior...

Vejo diariamente os telejornais da véspera num canal de televisão australiano (do Estado) chamado SBS, que passa uns quarenta noticiários diferentes das maiores comunidades de estrangeiros residentes aqui na Austrália – franceses, italianos, gregos, japoneses, árabes, chineses, polacos, russos, sérvios, enfim... uma data deles. Frequentemente fico a ver outros telejornais, até para, através das imagens (já que da respectiva língua nada entendo) tentar perceber sobre quais os motivos de interesse dessas comunidades e, muitas vezes, dou comigo a pensar... ah... afinal o nosso telejornal da RTP, até nem é assim tão mau!

Contudo, há dias apeteceu-me escrever para a RTP a denunciar o mau gosto e o provincianismo patêgo e saloio pelo facto de, imagine-se, em dois dias seguidos os últimos minutos do telejornal (supostamente preparado para as diferentes comunidades de portugueses espalhados pelo mundo), terem sido totalmente dedicados a homenagear o Lou Reed, um intérprete americano, de rock and roll, sem nenhuma importância assim tão relevante em Portugal, ou crucial para a cultura pop, nem sequer assim tão conhecido entre nós! Curiosamente nos outros noticiários, alguns referiram de passagem o desaparecimento do velho Reed, ex-membro dos Velvet Underground, e apresentaram por dez segundos um excerto do tema “Take a walk on the wild side”.

E fiquei a pensar por que motivo a RTP terá produzido uma sentida homenagem durante dez minutos para homenagear, durante dois dias a memória do rocker que não era português, explicando quem o influenciara, que canções gravara, com quem tocara, com que músicos, os títulos dos respectivos álbuns, as vendas atingidas, eu sei lá! Acho que os portugueses ficaram licenciados em Lou Reed  com tanto detalhe. E nós portugueses, lá longe, o que tinhamos a ver com aquilo tudo?

Não digo que nos enchessem os minutos finais dos noticiários com o divórcio daquele ex-ministro do PS que desatou à porrada à sua bela mulher, agora alcoólica, (???), ex-apresentadora da SIC, mas ao menos que tivessem feito uma justa homenagem aquando do desaparecimento há dias, do António Mourão, do “Oh tempo volta para trás”, que era conhecido, que era português e que ajudou a RTP a preencher muitas horas de emissão nos anos 60 e 70 e que faleceu triste e só, “arquivado” na Casa dos Artistas.

(Consta por aqui que o Manuel Maria Carrilho e o Paco Bandeira vão formar um duo musical:
o Duo Olho Negro...) – acho linda!!!

A mim, quer-me parecer sinceramente que a RTP está de facto a precisar de uma valente vassourada e que tipos como os que estão à frente da gestão e da informação, deverão certamente estar a candidatar-se a uma indemnização valente, tal como sucedeu ao sinistro Emídeo Rangel que veio da SIC para desestabilizar a RTP e logo a seguir saíu com uma choruda indemnização milionária.

Ou talvez (admito) eu não esteja a ver bem o problema e me faltem factores diversos na difícil equação! Talvez afinal o Lou Reed fosse candidato à Presidência da República, ou Conselheiro de Estado, ou o homem que pagava as subvenções do governo, ou, sei lá... o fornecedor de droga de alguém importante na RTP!   

Esquesitices minhas, já se vê!

O Mário Soares não está bem da cabeça. Por favor internem-no!

Dizia-se há muitos anos que quando um tipo liga o intestino grosso directamente aos miolos só sai cagada!
Julgo que será o caso de um daqueles políticos que considero ser dos principais responsáveis pela forma como o nosso país se encontra e que, pesem os factos, irá morrer sem ser julgado e criminalmente penalizado pela quantidade de trapalhices, disparates e erros absolutamente inadmissíveis e indesculpáveis como manipulou os destinos desta ditosa pátria nossa, designadamente em três áreas concretas, a saber:
- a descolonização “exemplar”;

- a “estupenda” adesão à União Europeia e sequente entrada para a zona euro;

- a quantidade de roubos, desvios e escandalosas manobras financeiras de que só a família Soares beneficiou.

Falo obviamente do Mário Soares, que suponho esteja atacado de demência senil!

Sobre ele encontrei na Internet um recente texto de uma grandiosa mulher que conheço pessoalmente, a cronista e escritora Helena Sacadura Cabral, mãe dos irmãos Portas, que sobre a arrogância e má criação de Mário Soares escreveu a 17 de Outubro o que a seguir transcrevo.  

Começa a ser preocupante a forma como um ex Presidente da República se refere a outros ocupantes do mesmo cargo e, em geral, aos políticos do seu país.
A função desempenhada no passado e a despesa que ela ainda representa para a nação deveriam impor uma certa forma de contenção verbal. Discordar é uma coisa. Enxovalhar ou difamar é outra, muito diferente.
Acresce que uma comunicação social responsável não deveria ser o veio de transmissão daquilo que mais não é do que uma triste manifestação de senilidade. À bon entendeur salut, como dizem os franceses!

Simplesmente brilhante!

Nobel da Paz
Mais uma vez me desiludiu e entristeceu o facto do Comité norueguês para a atribuição do Nobel da Paz estar perfeitamente cativo de interesses americanos.

Há uns anos atrás atribuiu o Nobel a um recém chegado à Casa Branca, sem que  então o acabado de eleger Barak Obama tivesse sequer dado provas sobre se era competente, burro como o antecessor (Bush), violento, ou equilibrado.

Em 2006, todos aguardavam que o Nobel contemplasse a corajosa Irene Sendler (na ocasião com 88 anos e ainda viva) e que sendo alemã, correra seriíssimo risco de vida durante a 2ª Guerra Mundial ajudando a salvar mais de 2500 crianças judias dos campos de concentração nazis, tendo sido presa e torturada pelo regime de Hitler. Salva por milagre, ela aguardava o reconhecimento do comité do Nobel da Paz que, entretanto em 2006, achou dever contemplar o americano Al Gore, simplesmente porque este escrevera um livro sobre o Aquecimento Global. Nem o lobby dos ambientalistas esperava tal prémio a distinguir quem, no fundo, era só conhecido por ser membro do governo yank!

Este ano, nova borrada! Todos contavam com a atribuição do Nobel da Paz à jovem paquistanesa Malala, activista dos direitos das raparigas estudarem, e que foi brutalmente atingida na cabeça num atentado organizado pelos talibans locais, só porque a rapariga entendeu e bem manifestar-se contra a chária muçulmana extremista que proíbe as raparigas de estudar e ter os mesmos direitos que os rapazes.

Seria a atribuição do Nobel da Paz à mais nova laureada da história. Seria um incentivo a todas as jovens paquistanesas e indianas. Seria uma enorme lição de coragem e seria sobretudo a melhor forma de fazer com que determinados países como o Paquistão, o Irão, o Afeganistão, o Iraque, etc. se começassem a desenvolver em pleno, pois está mais do que provado que essas sociedades completamente atrasadas e medievais só poderão acompanhar o ritmo do resto do mundo quando as mulheres tiverem os mesmos direitos, as mesmas oportunidades e as mesmas condições que são proporcionadas aos homens.

Ainda por cima, a Malala é uma jovem esforçada, que, pela sua causa, mal se pôs boa de saúde imediatamente escreveu um livro e desatou a viajar a suas expensas para apresentar a verdade dos factos, a sua tese, e espalhar a sua palavra, inclusivé nas Nações Unidas, tendo até recebido o prémio Sakharov 2013, atribuído pela União Europeia.

Pois o bendito comité norueguês decidiu entregar o distinto prémio a uma recentíssima e ainda desconhecida comissão para a destruição das armas químicas, ligada às próprias Nações Unidas e que funciona da seguinte forma: - eles acusam a quem a Rússia e a Alemanha venderam armas químicas. Depois, os Estados Unidos fazem um chavascal medonho e acusam, ameaçam e montam uma perseguição obcessiva até se chegar ao ponto de se ameaçar com a invasão do país. Depois, as Nações Unidas exigem a destruição do armamento químico e os rapazes vão lá, fazem uma listagem do material em causa, colectam os resquícios e determinam que se transportem os materiais para os Estados Unidos, supostamente os ùnicos com condições para destruirem essas armas, e fazem-no por um preço semelhante ao da venda desse material, preço que o país receptador do armamento (neste caso a Síria), já tinha pago à Rússia e à Alemanha e que agora volta a pagar para que os States o destrua...  

E foi a este comité que foi entregue o Nobel da Paz de 2013! Porreiro, não é?

Sobre Malala, o meu amigo João Paulo Diniz, escreveu oportunamente um pequeno texto que tomo a liberdade de reproduzir.

Há uma jovem Paquistanesa que há precisamente um ano foi alvejada a tiro quando seguia para a escola com outras meninas da sua idade.
Os autores dessa barbaridade foram talibans, que impuseram não querer que as jovens fossem para a escola.
Gravemente ferida, ela foi levada para Inglaterra onde, num hospital, em Birmingham, uma extraordinária equipa conseguiu operá-la e salvar-lhe a vida.
A jovem de quem falo chama-se Malala Yousafzai, acabou de completar 16 anos, por sinal no mesmo dia em que falou nas Nações Unidas, em Nova York. Aí afirmou, com a maior simplicidade, que "uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A Educação é a única solução".
Entretanto, Isabel II já convidou Malala para uma recepção no Palácio de Buckingham.
Hoje, o Parlamento Europeu atribuíu a Malala o Prémio Sakharov, destinado a distinguir pessoas ou organizações que se batem pela Liberdade e pelos Direitos Humanos.
Amanhã de manhã, a Academia Nobel vai anunciar o Prémio Nobel da Paz de 2013. Malala é uma das candidatas. E eu estou aqui a desejar que o notável exemplo de coragem e determinação de Malala mereça essa grande honra. Porque é com pessoas como ela - e só tem 16 anos, meu Deus! - que o mundo pode ser um lugar melhor.
E, haja o que houver, desde já fico à espera de um encontro entre duas grandes figuras deste século: Malala... e o Papa Francisco! Que Deus nos dê saúde para sermos testemunhas desse momento!! 

Pois é meu caro João Paulo, estávamos todos equivocados e pelos vistos, o Comité norueguês decidiu, mais uma vez, de uma forma bizarra e direi mesmo de forma suspeita! Cést la vie!

Com a minha recente Hospitalização...

...muita coisa se passou e eu sem poder controlar a minha vida, os meus timings, e os meus hábitos! Chiça... foi azar!

Quando voltei a casa, a 20 de Outubro, (e já vos escrevi a dar conta dos tormentos todos), tinha à minha espera 352 mails e 577 mensagens de Facebook. No mínimo teria de os ver e ler todos e responder à maioria, tarefa demorada e cansativa, mas que agradeço do coração, e que mais uma vez provou (se é que isso era necessário...), que a amizade é uma força maravilhosa, dinamizadora, poderosa e desconcertante!
Essa cadeia fraternal atingiu vários países, saltou muralhas e fronteiras e veio de Portugal, do Brasil, de Moçambique e até do Bangladesh, onde está neste momento um amigo íntimo de há mais de 45 anos, o Ismail Seedat, o líder da comunidade muçulmana de Moçambique, meu ex-colega de liceu e amigo de incontáveis farras desse tempo maravilhoso que já não volta mais!

A todos o meu comovido OBRIGADO! Deus é grande!
Mas a doença e a hospitalização forçaram-me a perder algumas coisas já agendadas e por mim desejadas e muito esperadas, designadamente:
- a comemoração dos 100 anos da Marinha de Guerra da Austrália que reverteu num majestoso espectáculo de três dias nas águas do porto de Sydney, com a visita do Príncipe Harry da Grã-Bretanha, a visita de cerca de dois milhões de forasteiros, a presença de 40 vasos de guerra da Armada australiana, mais de 8.000 marinheiros a bordo e a presença de vasos de guerra de 8 países amigos, designadamente Veleiros de grande porte, provenientes da Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Índia, Nigéria, Japão, China e Coreia. Pena que Portugal não tivesse podido destacar a Sagres que teria feito uma excelente figuraça e ainda por cima, pelo facto de termos sido nós os primeiros ocidentais a demandar por mar estas paragens. Foi o maior evento popular desde a abertura dos Jogos Olímpicos do Ano 2000. No final houve um feérico fogo de artifício (transmitido pela televisão) muito melhor que os habituais fogos de final de ano. Adorava ter por ali andado a fotografar os navios, a gente, o fogo (fireworks), mas já disse à Bianca: “ok, fica para daqui a 100 anos aquando dos 200 anos da Armada Aussie!” – ela riu-se e espero que não tenha pensado que estava a falar a sério!

- o outro evento, ocorreu a 20 de Outubro e foi o 40º aniversário da iconográfica Opera House, inaugurada com a presença da Rainha Isabel IIª (Elizabeth, The Second). Houve festejos múltiplos, sendo que o mais impressionante foi, nessa noite, um show de luzes sobre a estrutura do magnífico edifício que fica a uma centena de metros da Ponte – Sydney Harbour Bridge. Muita gente, muitos artistas, muitas reportagens e... muita pena minha de lá não poder ter estado! Paciência...e agora não estou a brincar...conto lá estar daqui a dez anos aquando do cinquentenário da Opera House. Até lá sai-me a Sorte Grande e alugo um voo charter e trago todos os meus amigos a Sydney, para juntos assistirmos às comemorações! Hein? E esta? Na construção deste edifício, que é talvez o símbolo maior da cidade de Sydney, participaram centenas de portugueses, segundo documenta um documentário extraordinário realizado pelo meu particular amigo Zeca Mariano, realizador dos Estúdios Fox, aqui residente há mais de 50 anos e com quem tenho a honra de colaborar (como já vos contei), fazendo as vozes off no Programa “Australia Contact” que o Zeca realiza e produz mensalmente para a RTP.

- Também durante a minha estadia nos Hospitais casou em Lisboa, no dia 5 de Outubro, o meu afilhado Pedro Mendes, filho dos meus Compadres Sérgio Abrantes Mendes e Fátima Mendes. O Sérgio (Juiz na Relação de Évora),  já me contou por alto que o casamento foi excelente e que o copo d’água terá decorrido com o maior esplendor junto da estátua do Cristo-Rei. Adorava ter ido para dar um apertado e comovido abraço a esse meu afilhado de baptismo com quem privei momentos inesquecíveis. Diz-me o Sérgio que o Pedro escolheu uma noiva lindíssima, polaca, com um nome impronunciável e que ele conheceu quando trabalhou em Varsóvia no Pão d’Açucar lá do sítio. Felicidades aos noivos, muita saúde e filhos... que é o que o Ocidente precisa!!!

Paradoxo Dialético

Uma das coisas que mais me diverte são os Paradoxos e algumas intersecções da língua com a matemática. Há dias, a Bianca trouxe-me um desses Paradoxos que me divertiu muito e que passo a contar-vos:

“A frase seguinte é falsa.

 A frase anterior é verdadeira”

Ah Ah...  e afinal, em que ficamos? A mim o resultado parece-me o de um discurso de político: ambas as frases são falsas!


Fait-Divers

Há dias, vi um anúncio de uma imobiliária aqui de Sydney, que anunciava estar à venda a vivenda mais cara do mundo, exactamente aqui em Sydney – por 600 milhões de dolares. Se eu estivesse em boas condições físicas, teria desafiado a Bianca e metia-me ao caminho, cheio de curiosidade para ir ver o casarão. Alugava um carro de luxo, vestia-me de árabe e aparecia com uma “intérprete” que faria de conta traduzir para árabe as explicações que certamente muito solicitamente os vendedores iriam querer dar ao potencial comprador. Faço ideia o luxo e a soberba de tal casuncha!

Para os apreciadores da velha música dos Anos 60, devo dizer que já está à venda um novo álbum do Paul McCartney, lançado na semana passada e que o velho Beatle gravou aos 72 anos. Chama-se NEW e devo dizer que fiquei admirado com a estaleca e a energia, a inspiração do Paul e o som tão semelhante ao dos Beatles. Extraordinário! Segundo o Paul, em entrevista reproduzida aqui na Austrália, ele lamentou-se do facto de não ter tido ao seu lado o eterno companheiro John Lennon, que era de facto quem emprestava a centelha divina do génio musical e poético que o caracterizava. Ainda assim, vale a pena ouvir o novo trabalho do velho senhor. Aos 72 é obra!

O nome de Portugal agora vai aparecendo quase todos os dias nas televisões australianas, embora, nem sempre pelas melhores razões!

O Surf tem sido uma quase constante e ainda por cima com as melhores referências por parte de um surfista australiano que encantado com o Guincho e com a Nazaré fez múltiplos elogios ao mar, às praias e sobretudo às gentes portuguesas! Curiosamente sobre a Ericeira – supostamente a “capital do surf” em Portugal, como a malta gosta de referir – nem uma só palavra!

Cristiano Ronaldo e José Mourinho são presenças constantes nos noticiários, ou mostrando os golos do craque, ou mostrando as birras do treinador setubalense, sempre assumidamente convencido de ser inultrapassável e invencível...

Ultimamente voltou a falar-se quase diariamente daquela deprimente obcessão do casal McCann no sentido de continuar a defender a telenovela do rapto da Maddie McCann! A mim, que conheci bem o caso e até fui porta-voz do Inspector da Judiciária Dr. Gonçalo Amaral, faz-me aflição ir seguindo as “estórias” inventadas pelos pais da criança, quando eles bem sabem o destino que a miúda teve...

Só lamento que o Gonçalo se não encha de coragem e não vá a uma televisão contar o que sabe e dizer até, onde param os restos mortais da miúda. Não me cabe a mim contar o que sei e pela minha parte só fui porta-voz do homem a quem uma série de decisões erradas por parte de uma jovem juíza, inexperiente e manipulada, permitiu cair num tremendo disparate que foi “acabar” com a liberdade de expressão e que eu, como porta-voz (já que o Gonçalo Amaral estava proibido de falar sobre o assunto) contestei publicamente, chamando a atenção para o desrespeito à Constituição. Esse erro foi já reparado mediante decisão após recurso intentado e ganho pelo Gonçalo.

Mas – se me estás a ler Gonçalo – peço-te: acaba de vez com esta encenação e revela ao mundo o que sabes, reabre o processo em Portugal, acaba com as investigações patetas que vão alimentando a ideia sórdida do rapto, que afinal terá sido realizado por alguém que já faleceu... Enfim... tudo “estórias” que só têm um objectivo – alimentar a gula insaciável daquele casal que transformou a morte da filha em fonte de rendimentos.

Termino com a referência aos muitos incêndios (bushfires), que devastaram na semana passada algumas zonas circunvizinhas de Sydney, designadamente as Blue Mountains e um bairro relativamente próximo de nossa casa – Balmoral. Arderam mais de duzentas casas e milhares de pessoas ficaram sem nada.

Porém, a rapidíssima resposta da comunidade, a rápida resposta dos Seguros e a rápida resposta do governo australiano, presente na 1ª linha desde o 1º momento, com o 1º ministro falando com as vítimas, reconfortando-os e conversando com os bombeiros, tudo colmatou e hoje já ningém está nem ao relento, nem sem uma solução económica. Curiosamente nas imensas entrevistas realizadas pelos vários canais televisivos, todos se comportavam com um civismo incrível, sem críticas dramáticas, sem choros, sem desesperos, na maior das calmas. Uma série de restaurantes deslocaram para os diversos locais das chamas carrinhas carregadas de comida para servirem gratuitamente quem se quisesse servir e alimentar-se a qualquer hora do dia e da noite. O único indivíduo que vi chorar foi o chefe dos bombeiros quando dizia da sua frustração em não conseguir socorrer a todos e não conseguir salvar os bens de todos os que ficaram sem casa. O Exército de Salvação organizou de imediato uma formidável acção por toda a Austrália e numa semana providenciou mobílias, electrodomésticos, loiças, brinquedos, roupas, etc. para todas as famílias vítimas das chamas.

Não fora a tragédia e o que se lamenta, eu diria que foi digno de se ver e a forma como esta gente reagiu e de imediato se colocou de pé! Grande exemplo e grande gente!

Dr Gorbatov

A 23 de Outubro tive uma última intervenção cirúrgica ao meu olho esquerdo. Não sendo possível eu deslocar-me de autocarro, a Bianca decidiu levar o automóvel para a baixa (a CBD de Sydney) e deixou o carro num parqueamento junto do consultório por três horas. Ao fim pagou 90 dólares, i.e. perto de 80 euros pelo estacionamento de três horas! Aqui não há cá excepções e se alguém estaciona e prevarica na baixa tem mesmo de “entrar com o bilhete”!

Mas tudo ficou compensado com a fabulosa notícia que o médico nascido na Rússia, professor universitário em Sydney, tinha para me dar. Depois de muitos testes e análises, ele deu-me os parabéns e disse-me que, salvo algum acontecimento médico inesperado, eu me tinha safo e a recuperação pelas intervenções cirúrgicas tinham decorrido de tal forma que a partir daqui o olho esquerdo estava salvo e só iria fazer periodicamente uma manutenção com laser. Em princípio, portanto salvei a vista e não irei cegar do meu olho esquerdo!

Camões... não te vou imitar! Não tenho veia para isso!

Durante a viagem de carro, de regresso a casa, sem a Bianca ver, chorei de alegria, baixinho, para não a perturbar e agarrei-lhe com força a mão disponível da condução do carro e em segredo agradeci a Deus e ao meu Anjo da Guarda, a Bianca, a quem ficarei eternamente agradecido.

Hoje, dia 2 de Novembro vêm cá a casa almoçar os meus padrinhos de casamento, A Estela e o Fernando Ferreira, pessoas que muito estimo e de quem muito me orgulho pelo estatuto moral e cívico que têm. Em Timor o casal está a terminar um orfanato e um infantário que ofereceram à população e na Tanzânia estão a construir para a população um Hospital, um orfanato e uma escola secundária!

É verdade – há pessoas assim – Deus é grande e eles são o exemplo perfeito! BEM HAJAM Fernando e Estela por existirem!

Por hoje é tudo. Saúda-vos este vosso amigo desta abençoada terra dos cangurus e dos koalas.


Luis Arriaga – Sydney, aos 2 de Novembro de 2013.

Fui às sortes e safê-me...

No Alentejo dizia-se assim, quando se ia à inspecção militar e a malta se safava da guerra do ultramar.

Nos meus tempos de liceu, tinhamos pavor de tirar uma negativa! Agora, a idade avançou e quando fazemos análises, só queremos mesmo tirar NEGATIVAS!

Felizmente foi o que me sucedeu – Amigos, tirei uma excelente NEGATIVA nas análises que fiz ontem, dia 17 – endoscopia e colonscopia. A médica suspeitava que eu tivesse um cancro no cólon e felizmente NÃO TENHO!

Fui às sortes e safê-me!

Realmente alguns amigos já me tinham garantido – “Luis, não custa nada, nem sentes, quando acordares, já passou...” Mas eu estava com medo era dos resultados! Gostava de ainda por cá andar mais uns anos...

Às 15 horas de uma terça feira chuvosa dei entrada no North Shore Hospital. Instalaram-me na ala norte do Hospital – 2º andar, quarto 250. Quarto individual, limpinho, decoração simples, mas simpático e com aparelho de televisão. Janela para o parque de estacionamento do Hospital.

Entrou a enferrmeira de serviço. Bonita, elegante, loira, de olhos azuis e uma pronúncia que me era vagamente familiar! “Hello, I’m Linda, I’m british... from London!” “Ah...” – respondo eu – “from The Beatles country!” “Yes… but the Beatles are from Liverpool!” “yes, I know that”

Uau – Beatles? Logo no começo? Uau... é bom sinal!

A Bianca, de uma total dedicação, acompanhou-me sempre. Reparei que ela estava um pouco nervosa. Descansei-a contando umas piadas, mas suponho que ela reparou que também eu estava diferente e nervoso. Por mais forte que se seja e “preparado”, nunca se está pronto para uma sentença grave!

Começaram as preps que é como quem diz, as preparações para o tormento das análises!

Tive de beber, ao longo de quatro horas, mais de dez litros de água e um preparado qualquer a saber a vitamina C, ligeiramente esbranquiçado.

Às sete da tarde mudou o turno das enfermeiras.

Entrou outra – baixinha, de pele muito branca, magra, olhos verdes.
“Hello, I’m Lorraine, I’m irish!” “Oh, my name is Luis and I’m portuguese.”
“Really? So we are brothers – we are both gaelic!” (Ai é? Então somos irmãos porque somos ambos gaélicos).

Estava em casa! Realmente a cultura celta, teve o seu berço na Irlanda e marcou indelevelmente a língua portuguesa uma vez que a presença dos celtiberos na Península foi significativa e embora não muito prolongada, foi o suficiente para ter influenciado a nossa forma de falar, de sentir, de nos expressarmos. Palavras como Fado, Faena e Fandango vêm directamente da cultura celta, ou da língua gaélica, como eles gostam de assinalar.

Só por curiosidade, acrescento que Fado significa uma “tasca” onde se vai beber e ouvir canções nostalgicas. Ainda hoje na Irlanda se usa!

Durante a noite a Bianca teve de sair (embora as vsitas fossem só até às 20 horas, ela ficou até às 21h).
A noite foi em branco, uma vez que as preps fizeram efeito e tive de ir (bem contadinhas) 18 vezes à sanita descarregar a água toda que entrara e limpar tudo muito bem para a colonscopia do dia seguinte!

De meia em meia hora a irlandesa vinha dedicada e cuidadosamente perguntar-me “my darling, hello, is everything all right?”

Assistência de 1ª classe! Melhor? Impossível! E na Austrália é assim: a custo quase zero!

Na manhã seguinte, a irlandesa veio avisar-me de que eu seria o 1º a avançar para as análises!

Pelas 8 horas um enfermeiro australiano, do tipo dos jogadores de rugby, tipo armário, 1, 90m, cabelo rapado e lenço enrolado à volta da cabeça, entrou, apresentou-se, cumprimentou-me e disse-me – vá, entre para cima da cama e eu vou levá-lo para a enfermaria das análises!

Respondi-lhe que eu poderia ir a pé! Ele olhou-me espantado e disse-me que se eu quisesse fazê-lo poderia, mas ele teria de levar a cama na mesma! Ah...ok – perebi que eu teria mesmo de ir deitado porque seria assim que eu iria ser sujeito às análises!

Saloio! Nunca fiz uma coisas destas... ninguém adivinha! Eu sabia lá...

Fui saudado por três médicos. O da colonscopia – que eu já conhecia – indiano, que tinha estado em Portugal, num congresso médico, há anos atrás. Professor universitário, o simpático Dr, Sandanayake, que me sossegou e disse que não ia custar nada “mais fácil do que o Cristiano Ronaldo marcar um golo!”

Estava um médico chinês que era o anastesista e me saudou calorosamente como se me conhecesse e uma médica australiana (a da endoscopia), menos comunicativa, mas com um ar profissional.

Apanhei a injecção no peito da mão esquerda e só me lembro da médica me mandar morder um objecto que entretanto me colocou entre os dentes!

Mais nada!

45 minutos depois acordei noutro local – e uma mulatinha simpática (talvez indonésia) disse-me: you are recovering – estás a voltar a ti!

Meia hora depois apareceu o Dr. Sandanayake que me saudou de novo e me disse com um sorriso que nunca mais esqueço – está tudo bem! Não tens cancro. Só tinhas um pólipo que tirei. De resto tens as paredes do aparelho digestivo muito vermelhas, mas é da falta de ferro. Daqui a quatro semanas quero-te ver no meu consultório aqui do hospital. Mas fica sossegado – não tens cancro!

Apeteceu-me saltar da cama e correr para um telefone, ou para um computador e começar a enviar mensagens!

Estava sem forças e com sono ainda, devido à sedação.

Quando o “jogador de rugby” me levou de novo para o quarto 250 lá estava a minha Bianca ansiosa à espera e creio que lhe adivinhei uma lágrima a correr pelas faces quando lhe disse do que o Dr. Sandanayake me garantira. “Eu sabia! Tu és como a Fénix!”

Daí a pouco entrou uma nova enfermeira de turno!

Indiana, linda, de cabelo comprido! “Hello, my name is Pria, and I’m from India!”

My name is Luis and I’m Portuguese! And you came from India, but where from? Da Índia, mas de onde? De Goa! Uau… lindooooooo! Continuava a jogar em casa! Ela sorriu e deve-se ter recordado do passado comum de Portugal e Goa, Damão e Diu!

Não comia nada desde domingo ao jantar.

Era terça-feira e a fomeca dava sinal! Ainda não era meio-dia e a Pria mandou que me fosse servido o almoço. Não sei se seria assim tão bom, mas achei-o delicioso e papei-o num instante!

Logo após o “repasto” saímos. Lá vim com a Bianca para casa. Quando cheguei, não tive alternativa: deitei-me cansado, cheio de sono e feliz!

Dormi até hoje, 4ª feira, dia 18, até meio da manhã.

À tarde tinha uma tarefa sagrada – comunicar com todos os meus amigos e dizer-lhes simplesmente que
FUI ÀS SORTES E SAFÊ-ME!       

Luis Arriaga
Sydney, aos 18 de Setembro de 2013.


Os Incêndios em Portugal - 2013 – José Gomes Ferreira

A evidência salta aos olhos: o país está a arder porque alguém quer que ele arda. Ou melhor, porque muita gente quer que ele arda. Há uma verdadeira indústria dos incêndios em Portugal. Há muita gente a beneficiar, directa ou indirectamente, da terra queimada.

Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas.

Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:

1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?

Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?
Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?

Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?

Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?

2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...

3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.

4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.

5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.

Há cerca de um ano e meio, o então ministro da Agricultura quis fazer um acordo com as direcções das três televisões generalistas em Portugal, no sentido de ser evitada a transmissão de muitas imagens de incêndios durante o Verão. O argumento era que, quanto mais fogo viam no ecrã, mais os incendiários se sentiam motivados a praticar o crime...

Participei nessa reunião. Claro que o acordo não foi aceite, mas pessoalmente senti-me indignado. Como era possível que houvesse tantos cidadãos deste país a perder o rendimento da floresta - e até as habitações - e o poder político estivesse preocupado apenas com um aspecto perfeitamente marginal?

Estranhamente, voltamos a ser confrontados com sugestões de responsáveis da administração pública no sentido de se evitar a exibição de imagens de todos os incêndios que assolam o país.

Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime.

Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:

1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.

2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).

3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores

4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.

5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.

6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.

Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.


José Gomes Ferreira         

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

CRÓNICAS do Fim-do-Mundo 15 - 61 anos...

Simplesmente EU
Sim, estou velho! Ainda me lembro que, quando era miúdo, olhava para os adultos de 50, cinquenta e pouco e achava-os velhos! Com sessenta, muito mais. Se conhecia algum de setenta anos, bom... comparava-o ao Matusalém! Completamente jurássico!

Os anos passaram a correr, os cabelos (e a barba) branquearam e aí estou eu com 61 anos!

Tenho de admitir que embora ainda me sinta capaz de calcurrear mais uns quilómetros de vida, amigos... estou velho!

Gostaria de agradecer a todos quantos me enviaram mensagens, telefonemas, sms’s, mensagens pelo facebook (cerca de 150...), o meu MUITO OBRIGADO pela lembrança, pelo apoio nesta época difícil, pelos mimos (que deixemo-nos de coisas... sabem sempre bem e por vezes até me deixam de lágrima ao canto do olho), pelos votos de felicidades. São todos uns amores!
Nesse dia e dois dias depois, no sábado 31 de Agosto, eu e a Bianca tirámos fotografias que tenciono enviar em Anexo com esta Crónica nº 15.

Saúde

Sobre a saúde tenho-vos informado da evolução dos acontecimentos e não vou agora maçar-vos com mais relatos. Só quando realmente houver mais novidades. Combinado? Serei internado a 16 e terei alta a 18.
Dia 16 de Setembro é o Dia de Ano Novo para todos os Judeus do mundo.
Vamos entrar no ano 5774! A todos, os meus sinceros votos de um feliz ROSH ASHNA.

Portugal a arder

Tenho o hábito de diariamente assistir a um serviço muito mal feitinho pela RTP Internacional, aqui na Austrália, um pequeno telejornal da véspera (noticiário das 13 horas), com a duração de 40 minutos, emitido às 10h.20m  e pasmo com a quantidade absolutamente incrível de incêndios que deflagram no norte do país e que, para além dos naturais prejuízos ambientais, este ano fizeram, até ao momento, oito vítimas mortais.

Fiquei particularmente chocado com a morte da jovem Rita, de 22 anos, bombeira em Cascais, num desgraçado fogo em Tondela.

Lágrimas pela Rita e por todos os outros bombeiros que deram a vida pelas vidas de todos nós, ingloriamente, enquanto o estado não tomar uma medida absolutamente urgente, no sentido de proibir a construção imobiliária por um período nunca inferior a cinquenta anos, nas áreas ardidas, independente dos planos e projectos de desenvolvimento urbano já existentes. Por outro lado, implementar medidas legislativas que afectem a penalização do fogo-posto equiparável a actos de terrorismo e como tal, devendo ser julgados em tribunais especiais, com penalização equivalente a aplicar de forma exemplar – para actos criminosos especiais, medidas especiais!

No final e em Anexo, junto um texto brilhante que me chegou via mail e escrito pelo corajoso jornalista José Gomes Ferreira, que, com clareza e oportunidade, coloca o dedo nas várias feridas, chegando até a indicar responsáveis (declarados e presumíveis).

É claro que também não se poderá pedir que os tribunais actuem se a legislação é branda, ou inexistente...
Mas é aflitivo assistir diariamente a noticiários do país que, invariavelmente, durante o mês de Agosto, começavam com a notícia de incêndios e de reacendimentos, vítimas e prejuízos colossais num país a transbordar de problemas!

Por mais promessas e reformas que se façam, é todos os anos a mesma coisa! Para o ano, estou infelizmente certo... há mais do mesmo!

A morte de António Borges

Não o conheci pessoalmente, mas ia acompanhando as suas análises, os seus comentários e as suas entrevistas. Desconhecia que estivesse doente e para mim foi uma desagradável surpresa o seu prematuro desaparecimento.

Surpreendentemente creio que houve reacções de júbilo entre alguns cidadãos, o que lamento, pois reflecte um índice de menoridade intelectual e de grave deficiênccia emocional.

A este propósito, o meu amigo pessoal João Paulo Diniz, condecorado com a prestigiosa Medalha da Liberdade, este ano, no 10 de Junho, enviou-me um pequeno texto seu, que apreciei, aplaudo e subscrevo:

Que me recorde, nunca falei com o Prof. António Borges e até duvido que alguma vez o tenha visto pessoalmente. Soube, naturalmente, do seu falecimento. E hoje, ao ler na net o editorial do "DN", fiquei estupefacto. Escreve o jornal que "mal se soube da morte de António Borges, as redes sociais, os blogues e as caixas de comentários das edições online dos jornais foram inundadas de opiniões de júbilo pela notícia."
E dou comigo a pensar onde está o respeito pela memória de quem partiu, independentemente do facto de se gostar ou detestar essa pessoa.

E dou comigo a pensar como alguns - tantas vezes sob anonimato - opinam as maiores barbaridades acerca de tudo e de nada, quais 'sábios' saídos de uma universidade que só eles conhecem.
E dou comigo a pensar onde estão os valores que herdámos dos nossos antepassados. E que valores vamos oferecer às gerações actuais e futuras.

Que tristeza!

Quanto ao Prof. António Borges, que descanse em Paz!         João Paulo Diniz


Eleições na Austrália

No passado sábado, dia 7 de Setembro, realizaram-se eleições para a Assembleia Federal (Senado) e Governo.

Contra as minhas expectativas, o governo de Kevin Rudd (Labor – correspondente de certa forma ao nosso PS) perdeu e por margens esmagadoras, com equiparação a registos do tempo da 2ª guerra mundial!

Ganhou a oposição, liderada por Tony Abbot, que preside ao partido Liberal (mais ou menos correspondente ao nosso PSD).

Esperam-se algumas mudanças significativas, sobretudo a fazer fé nas promessas eleitorais, havendo a certeza de que vão aumentar os impostos, vão desaparecer as taxas que o governo anterior lançara às empresas exploradoras de minas e de carvão e a Austrália vai entrar num período de pelo menos quatro anos de um regime de capitalismo selvagem, defendido pelo candidato Tony Abbot.

Tony Abbot, é membro da Opus Dei e a mãe dele (segundo os mass media cá do sítio), dizia que ele um dia seria Papa, ou 1º ministro! Felizmente na Igreja católica deve ter prevalecido o bom senso e aí o temos como 1º ministro...

Tudo decorreu com a maior das serenidades e no final, todos procederam com o maior dos civismos e fairplay, tendo os derrotados felicitado os vencedores – lembrei-me dos problemas que tive em Portugal, quando, ainda ao serviço da Direcção-Geral da Administração da Justiça, publiquei no site da DGAJ as felicitações ao então vencedor do acto eleitoral entretanto ocorrido, Partido Socialista dirigido pelo Engº José Sócrates.

Enfim... Portugal ainda terá de percorrer um longo caminho na via dos procedimentos e dos hábitos da democracia.

Ainda sobre os resultados eleitorais desta terra dos cangurus, só me preocupa e muito que a futura ministra dos negócios estrangeiros, Julie Bishop, que é uma tiazona completamente inexperiente e seguidista, e que por inerência vai chefiar a delegação australiana, vá a partir de Outubro próximo, presidir ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, num período tão dramático quanto é o que estamos a atravessar, com a previsão de mais um conflito de proporções gigantescas, impossíveis de avaliar, no Médio Oriente.

Sai o anterior ministro, Bob Carr (um tipo admirável, conhecedor e equilibrado, de consensos) e entra uma tiazeca Barbie, que suponho, nem tenha bem noção de onde fica a Síria, ou que suponha que Burkina Fazo seja a marca de um electrodoméstico...

Enfim, vamos ver no que isto tudo vai dar!

Para já, começou por (como primeira medida tomada) demitir o Cônsul australiano em Nova Iorque, com a desculpa de que ele pertence ao partido Labor, agora na oposição! Muito mau sinal, uma vez que internacionalmente não há “oposição” – existe, isso sim, a preocupação de servir com competência os interesses do país! 

Recadinho para aqueles que ainda sonhavam vir trabalhar para a Austrália, ou emigrar:

Com Tony Abbot acabaram-se as abébias e a partir de agora, a legislação sobre emigração vai endurecer brutalmente. Quem veio, veio, quem não veio... ficou de fora!

Alguns já me tinham avisado que não esperasse que se eternizasse este estado de graça na Austrália. A Bianca, mais habituada a estes ambientes das terras do sul, não se mostra particularmente nervosa, nem preocupada. Deo gratias!  

Madrid 2020   

Como bom ibérico acompanhei por mais de dois meses a expectativa da escolha da cidade organizadora dos Jogos Olímpicos de 2020, cujo epílogo foi há dias o anúncio da cidade vencedora, em Buenos Aires, pelo Comité Olímpico!

Estava a torcer por Madrid que se apresentou francamente com uma proposta vencedora, naquele jeito arrebatador que só os espanhóis transmitem, com salero, organização, alegria, paixão!

Concorriam (nesta fase final) Madrid, Istambul e Tokyo.

Todas apresentavam os seus argumentos e confesso, não sendo Madrid, cheguei a supor que Istambul era a cidade que reuniria mais argumentos de novidade: o facto de pela 1ª vez ser um país árabe a organizar os Jogos Olímpicos, o facto de ser capital de um país de gigantesco poder, sobretudo se se projectar as expectativas de daqui a 8 anos, o facto de pela 1ª vez ser possível “fazer” as Olimpíadas em dois continentes.

Para trás ficaria obviamente Tokyo, uma cidade com 80% das estruturas olímpicas por construir (uma vez que as anteriores estavam caducas e obsoletas), uma cidade demasiado populosa e demasiado cara (a mais cara do mundo), ameaçada por terramotos e por poluições perigosas (Fukushima a uns poucos de quilómetros), uma cidade localizada em fuso horário absolutamente anticomercial e deixando a América fora do contexto das retransmissões em directo, uma cidade de gente cinzenta...

Pois foi exactamente a cidade ganhadora! A meu ver... infelizmente!

A Bianca acertou no prognóstico – Tokyo!

Como em 2024 San Francisco se perfilou já para se candidatar  e supostamente é uma vencedora antecipada, resta a Madrid a esperança de se recandidatar lá para 2028, ou 2032!

Há também quem assegure que Paris também pretende organizar os Jogos de 2024 e se porventura estes, de 2020, fossem na Europa, dificilmente os de 2024 se efectuariam também na Europa.
A corrupção, os interesses escondidos e a manipulação instalaram-se também no Comité Olímpico, o que é uma pena!

2032

Pois... eu acho que já cá não estarei, mas quem sabe? Se for vivo, terei a honrosa e provecta idade de 80 anos! Parece-me meta inatingível.

A Bianca diz que sim, que vou cá estar e continuar sem juízo nenhum!

Curiosamente o livro português que estou agora a ler e que me foi enviado e oferecido pela minha sogra, a Elizabete, (Bem Hajas Dezi), tem por título 2032, de autoria de Diana Cooper e é uma obra visionária repleta de previsões sobre o que será o mundo em 2032, quando, segundo a autora, começa a Nova Idade de Ouro, quando o mundo finalmente atingir a paz e será então absolutamente reconhecível uma revolução nas mentalidades, o desparecimento do materialismo e a implementação de uma era de espiritualidade.

Diana Cooper chega a esmiuçar país por país, refere-se a Portugal, à Austrália, à Nova Zelândia, e por aí fora! Considero uma leitura muito curiosa.

Achei extraordinário, que tendo o livro acabado de ser escrito em 2010 ou 2011 (isto, porque a 1ª edição é de 2012), a autora, ao referir-se à Síria apresenta uma fotografia absolutamente actual da crise que espanta e preocupa o mundo dos dias de HOJE! Para os aficionados pela leitura, sugiro vivamente o 2032, certamente fácil de obter numa livraria “perto de si”...

Vem aí a Primavera

O frio já começa a abrandar e direi mesmo que o calor já apareceu e mostrou que este ano vai aquecer um pedaço... não sei se tanto quanto o ano passado, mas recordo-me de um dia numa municipalidade de Sydney – Liverpool – os termómetros terem chegado aos incríveis 53 graus centígrados!

Por cá, o frio apresenta uma vantagem incontornável – não há baratas – las cucarachas... são aos biliões no tempo quente e mesmo em prédios com 70 e 80 andares, os residentes se queixam deste imenso e nojento incómodo! Aliás desconhecia que as putas das baratinhas hibernavam!!!

Oficialmente a Primavera entra a 22 de Outubro, aquando do equinócio da Primavera.

No último fim-de-semana de Outubro, em Portugal entra-se no chamado “horário de inverno” e aí a diferença horária aumenta para dez horas – cá mais tarde!

Uma semana depois, no 1º fim-de-semana de Novembro, a Austrália entra no “horário de verão” e há nova alteração das horas – a diferença horária aumenta então para onze horas – aqui, 11 horas mais tarde.
Realmente estamos a meio caminho entre Terra e Marte!

Já o tenho referido em diversos escritos que as cidades estrangeiras mais próximas de Sydney (com excepção de Auckland e Wellington na Nova Zelândia) – Jacarta, Dili, Singapura, Kuala-Lumpur, Macau, Bangkok, estão de Sydney, mais longe do que Lisboa está de Nova Iorque ou de Moscovo! E aquelas são as mais próximas de Sydney...

11 de Setembro

Passam hoje 12 anos sobre essa terrível data em que o mundo mudou para sempre.

O brutal atentado perpretado pela AlQaeda contra o Pentágono, contra as Torres Gémeas de Nova Iorque, contra o Ocidente, contra a Paz, fez abanar a estabilidade e perder a esperança que então, no início do século XXI, todos alimentávamos sobre um tempo mais espiritual, menos materialista, mais brando e menos ligado aos conflitos.

Infelizmente, cada vez mais constato que tenho razão quando digo que a Paz é um mero intervalo entre guerras e que o Homem é de facto de natureza conflitual, não sabendo viver sem ser em tensão, em conflitos maiores, ou menores.

Provavelmente, hoje mesmo, a 11 de Setembro na Síria começa um novo conflito cujo desfecho é impossível de avaliar, sabendo-se à partida, que de certeza cairão muitos inocentes, vítimas de ambos os lados e absolutamente impossibilitados de evitar as baixas, dada a violência dos meios envolvidos.

Se por um lado a comunidade internacional deve dar uma resposta convincente ao presidente sírio, Bashar Al-Assad, que comprovadamente não hesitou em utilizar armas químicas contra uma parte significativa da sua população, a verdade é que essa intervenção será tomada à margem do Conselho de Segurança das Nações Unidas e mais uma vez os Estados Unidos acabam por agir à revelia dos acordos internacionais estabelecidos e aceites pelos membros da ONU.

A divisão na Síria acontece por causa de uma eterna clivagem entre muçulmanos – os Sunitas e os Chiitas. Uma questão que não só, não é muito transparente, como, julgo em minha modesta opinião, esconder perversamente outras jogadas e interesses.

Honestamente penso que Israel estará a explorar a referida divisão entre muçulmanos e a guerra civil na Síria, para afastar do regime o ditador Assad, uma vez que ele é aliado do maior inimigo de Israel – o Irão – não permitindo que os aviões da Força Aérea israelita sobrevoêm a Síria para irem ao Irão destruir as fábricas das ogivas nucleares e as fábricas de enriquecimento do urânio, que se diz que o Irão possui e desenvolve há já vários anos, constituindo isso uma seriíssima ameaça à existência do estado de Israel.

Israel, para voar para o Irão terá de conseguir que os seus caças vão e voltem em segurança e necessita de os reabastecer em voo, o que, por enquanto, não é possível – só mediante a queda de Bashar Al-Assad.
Ora aí está uma outra perspectiva sobre esta crise  que afecta milhões de seres, não só na região, mas em todo o mundo.

Ainda que compreendendo os objectivos de Israel, legitimamente discordo que se tomem iniciativas tão alastradas e violentas e, apesar de tudo, talvez fosse possível um mal menor, através de uma medida cirúrgica. Mossad... why not?

A ser hoje o esperado ataque à Síria (e certamente muitos se seguirão... com o envolvimento de outros países da região...), o dia 11 de Setembro passa a ser uma espécie de Dia Maldito!
    
Mulheres Orientais

Mas falemos de outros assuntos bem mais agradáveis!

Uma das coisas que mais me tem intrigado é ver em Sydney uma imensa quantidade de homens ocidentais atrelados a mulheres orientais!

A miscegenação é um fenómeno natural, mas não numa tal proporção!

Perguntei a um amigo a razão de tal circunstância, ao que ele me respondeu dizendo que os australianos procuram com frequência as mulheres orientais por estas terem fama de serem meigas, submissas, boas mães, muito trabalhadoras, tratando da casa, dos filhos, fazem a comida, limpam tudo, não contestam os maridos, permitem que estes vejam na televisão os desafios de rugby, ou de futebol, sem refilarem, sem contestarem, não são ciumentas, estão sempre prontas para fazerem as vontades todas, nunca alegam estarem com dores de cabeça, não fazem birras e apresentam sempre um contagiante sorriso!

Bom, acabei por procurar confirmação disto junto da Bianca, que me disse – Ah pois é, mas elas fazem tudo isso a troco de terem um cartão Visa de crédito ilimitado e estão constantemente a fazer compras e não querem cá saber de conveniências financeiras – tem de haver dinheiro para férias no estrangeiro, para jantar fora uma vez por semana, para ir ao teatro, ao cinema, e dançar, bom carro...

Chiça... penico, chapéu de côco... venha o diabo e escolha.

Agora olho para as tailandesas, indonésias, coreanas, chinesas, japonesas, vietnamitas, filipinas de forma diferente! Deus me livre... prefiro as birras e os “maus feitios” das ibéricas, com o chamado pêlo na venta, com as suas exigências e “defeitos” inerentes ao feitio.

Pelo menos, é o que eu argumento sempre – ok... já sei...não é defeito... é feitio!

Entretanto já começo a saber distingui-las:
As chinesas são as mais altas e elegantes. As japonesas são geralmente feiocas e baixinhas (cá para mim... é por isso que os japs trabalham que se fartam), as filipinas são as mais provocantes e as tailandesas as mais sexy! As vietnamitas são, com as coreanas, as menos protegidas pela natureza, contudo, consta, as melhores cozinheiras...

Não sei se este capítulo da Crónica 15 vai ser censurado, com lápis vermelho e se durante uns dias não terei de enfrentar uma greve do proletariado, mas pronto... decidi correr riscos!

Artistas estrangeiros conhecidos

Obviamente que só dou atenção aos que conheço (dos anos 60 e 70) e provavelmente muitos outros, contemporâneos, também se deslocam cá, mas eu só reparo nos nomes dos velhos consagrados!

Estava para cá vir o J.J.Cale, em Outubro, mas de repente faleceu e entretanto foi “substituído” pelo italo-descendente, igualmente muito popular por cá, Don Mclain. Em Fevereiro desloca-se a Sydney e Melbourne o maior ídolo da Bianca, o judeu canadiano, baladeiro dos anos 60 e 70, Leonard Cohen. Mas não vamos ver porque os bilhetes mais baratos (já esgotados) custam 250 dolares (cerca de 240 euros... cada!).

Em Março de 2014, quando cá vier a minha sogra, vem actuar à Austrália a coqueluche do momento – novos e velhos caêm estarrecidos por ele – Michael Bubblé – uma espécie de Julio Iglesias dos tempos modernos. Eu acho que canto tão bem quanto ele, sou capaz de não ter a sua elegância, talvez não seja tão famoso, e provavelmente não teria as enchentes que ele vai ter, mas, pelo menos aqui na Unit 11 / 28 Moodie Street, Cammeray, NSW 2062, o show será preenchido com Luis Arriaga a solo, por cima dos discos do Frank Sinatra, Nat King Cole, Beatles, etc. Os números tipo Michael Jackson retirei-os do “menu” das festas, porque agora, coxinho e com a bota ortopédica tenho uma certa dificuldade em fazer aqueles passos mágicos desse cantor que também nasceu a 29 de Agosto, mas de 1959 (sete anos mais novo do que eu).

Tabaco

Lá como cá, existe e pratica-se a costumeira hipocrisia do Tabaco.

O governo vai lançar impostos elevadíssimos sobre o tabaco com o agravamento daqueles estúpidos e ineficazes anúncios nos maços, de que o Tabaco mata e aos quais já ninguém liga!

É constarngedor assistir a campanhas imensas em que o estado investe milhões e por outro lado perceber que (aí como cá), o Estado é o principal accionista, logo o principal interessado em vender tabaco. Mesmo com as restrições de se não poder vender a menores, de se colocarem faixas nos maços a referir que o tabaco provoca cancro, a verdade é que se vendem muitas toneladas de cigarros e o estado lá vai esfregando as mãos de contente, esperando certamente que muito poucos deixem de fumar e para limparem as consciências tingidas da poluição dos fumadores, o Estado toma umas quantas medidas absolutamente balôfas.

A Bianca afirma que o Estado investe balúrdios na prevenção e cura do cancro por causa do tabaco e na luta anti-tabágica, com os media.

Manias dos australianos

Não se deve generalizar, eu sei, sobretudo quando se fala de públicas virtudes e vícios privados.

Mas ao longo destes treze meses de Austrália, reparei que há por aqui manias e trejeitos, maneirismos e características muito comuns à generalidade dos aussies – que é como eles se referem a eles próprios.
Sei também que a Bianca não concorda com estas minhas observações.

1º Muitos se proclamam ter laços ancestrais com os aborígenes – o que eu chamo o “pecado aboriginal” – no fundo uma hipocrisia total! Quando os colonos ingleses vieram no século XIX fartaram-se de matar os aborígenes, quase até à sua extinção e constituiram como que “reservas” onde ainda hoje eles vivem, em condições de desenvolvimento restritas. É certo que eles parecem quase todos macacos, feios, pele muito escura, semelhantes a humanóides, de duvidoso aspecto, mas daí até se argumentar que se descende deles, por via de uma tia-bisavó de quinto grau, vai um gigantesco passo!

2º Todo o ausraliano sonha com uma viagem à Europa. Em especial ostentam um desejo que na maioria dos casos não passa de um devaneio (porque nunca chegam a ir), mas têm Paris como destino privilegiado, a aspiração máxima de uma vida de trabalho e sacrifícios – um acto de vaidade que é uma tolice, uma vez que o resto da Europa tem coisas maravilhosas como Barcelona, Roma, Lisboa, e por aí fora...

3º Manifestam na generalidade uma incontrolável inveja (e pena...) de não serem norte-americanos! Estão constantemente a criticar os yanks, mas adoravam ser como eles. Isto revela um irreprimível complexo de inferioridade, já que a Austrália contém, a meu ver, vantagens imensas sobre os Estados Unidos da América e sobretudo sobre a forma de viver dos yanks!

E pronto, meus amigos!

Desta vez fico-me por aqui e voltarei a dar notícias depois do Hospital!

Espero que fiquem bem e até lá recebam um imenso abraço, um ternurento beijo e as costumeiras saudações deste vosso servo, ao dispor

Luis Arriaga

Sydney, aos 11 de Setembro de 2013.