segunda-feira, 4 de novembro de 2013

CRÓNICAS do Fim-do-Mundo 12 - Junho

Defesas em kembla contra a suposta invasão dos
 Russos no final da 2ª Guerra Mundial
Junho chegou com frio, chuva, vento e com o Inverno a anunciar-se rigoroso. Eu não acreditei no que a Bianca me dissera – olha que na Austrália também faz frio, mais do que em Mafra, olha que vais ter de te agasalhar, olha que... – e agora vejo que sim! O drama está em que, de dia as temperaturas estão amenas, mas ao final da tarde, os termómetros passam rapidamente para zero, menos um, dois graus, e na cama temos de pôr os “doonas” a funcionar... Doona é a expressão aussie para edredon!

Junho é também o mês das festividades do Dia de Portugal, Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas!

Como aqui se comemora o aniversário da Rainha Isabel (que é a 10 de Junho, Feriado), os emigrantes portugueses entenderam e bem, festejar o nosso 10 de Junho a 8 – Sábado!

Por qualquer motivo que desconheço, uma comissão de portugueses veio pedir-me que eu discursasse na Sessão de Abertura das festas do Dia de Portugal em Sydney, no Frazer Park. Em princípio eram para estar presentes dois Ministros do Governo Federal Australiano e o nosso Corpo Diplomático. Afinal só foram, em representação do Mayor de Marrickville (o bairro onde fica o Pavilhão do Frazer Park) uma simpática senhora – Rosana Tyler e o marido – ela nascida em Bueno Aires e ambos Vereadores da Câmara, e a nossa Cônsul em Sydney, Drª Sofia Batalha.

No final, junto o texto do discurso que proferi.

Outras novidades

Tivémos recentemente outra visita em nossa casa. Tratou-se do amigo da Bianca, Garnet Rottcher, que embora sendo sul-africano de nascença, veio viver para a Nova Zelândia, onde está radicado há vários anos. Tendo de vir em serviço a Melbourne e a Sydney, convidámo-lo a ficar meia dúzia de dias em nossa casa.

Não sendo um particular apreciador de música, nos tempos livres, sobretudo à noite, antes de dormir, conversávamos sobre espiritualidade, já que o Garnet é um estudioso de Cientologia, uma espécie de “nova religião” oriunda dos Estados Unidos, uma forma diferente de se estar na vida criada por um cientista já falecido: Ron Hubbard.

Adquiri um livro sobre Cientologia para melhor me inteirar sobre tal “religião”, de que são seguidores, por exemplo, John Travolta, Tom Cruise, etc.

Entretanto, há dias, passeando a pé por North Sydney, vi um “outdoor” com uma frase publicitária de lançamento de uma nova bebida energética, frase que decorei por achar perfeitamente genial: Nada de Aditivos, Só Superlativos. Eu, que sempre fui fan de boa publicidade e de excelente criatividade, só não fotografei porque a máquina ficara sem carga, mas tomei nota para a divulgar entre os meus amigos!

Nesse mesmo passeio, acabei por ir até um local de que já tinha ouvido excepcionais referências – o MacMahon’s Point! (Ver Fotos no Flickr – é um local com uma vista deslumbrante!).

O nome despertara-me curiosidade, uma vez que também Lourenço Marques, de onde sou natural, tem uma Praça MacMahon, uma praça grande, na baixa da cidade, junto à formosa Estação Ferroviária, considerada uma das mais belas do mundo.

Curiosamente o regime moçambicano manteve a Estação e o nome da Praça que lhe serve de acesso!
MacMahon era o nome de um general francês que dirimiu uma disputa com os nossos “aliados” ingleses que no final do século XIX e início do século XX quiseram apoderar-se (no tempo da rainha Vitória e do sucessor Eduardo VII , a quem estranhamente os portugueses dedicaram um espaço nobre no meio de Lisboa...) dos portuguesíssimos territórios do sul de Moçambique.

Como nesse tempo ainda não havia Organização das Nações Unidas para arbitrar os diferendos políticos, os países propunham referees (árbitros com prestígio internacionalmente aceites por ambos os pré-beligerantes) e, confiando numa douta decisão, acatavam o que fosse a sua opinião.

Nessa circunstância, MacMahon decidiu que os territórios reclamados pela Inglaterra pertenciam legitimamente a Portugal. E Moçambique manteve-se então colónia de Portugal. Curiosamente, os ingleses chegaram a administrar durante dois ou três anos aquele território, a partir de Lourenço Marques, a que rebaptizaram de “Terra do Branco”, tradução da expressão landim que designava a cidade – Xilonguíne – hoje Maputo! E o meu avô materno, velho colono que habitava a velha Xilonguíne, chegou a ser obrigado a possuir Bilhete de Identidade como cidadão britânico...

Enfim, outros tempos!

Mal se imaginaria que cem anos depois, o neto viesse parar a esta antiga colónia britânica da Austrália!!! A vida dá realmente muitas voltas!

11 de Maio – Noite de Fados

Eu já me referira a ele na Crónica anterior. Falo do nosso amigo Ivo Rato, antropólogo português residente em Melbourne. Na ocasião referi-me a uma Tese que ele defende, no sentido de provar que o Fado é mais antigo do que se supõe (tem mais de dois mil anos) e não é efectivamente, nem uma “criação” brasileira trazida pelos escravos africanos levados para a então colónia portuguesa do Brasil, nem um produto dos “lamentos” mouros dos ditos “infiéis” que habitavam a cidade de Lisboa quando Dom Afonso Henriques a tomou em 1147. Com efeito, numa concorrida sessão realizada na tarde de 11 de Maio nas instalações do Museu Etnográfico Português, Ivo Rato explicou a sua fundamentada opinião das origens celtas do Fado, comuns ao Fandango e à Faena.

À noite houve Fados no Frazer Park e artistas vindos de Lisboa foram um sucesso. Alice Nunes, fadista de gema, com uma escola de fado em Alverca do Ribatejo, a nova cara bonita do fado lisboeta Raquel Tavares (surpreendente) e os guitarristas César e Flávio Cardoso (pai e filho, respectivamente Viola e Guitarra), o próprio Ivo Rato e ainda um excelente fadista local Ricardo Silva, animaram a noite, num espectáculo apresentado por mim e a noite terminou já madrugada (o que é raro por cá), com lágrimas de saudade, muitos autógrafos e pedidos de Bis!

Não percam a oportunidade de visualizar as fotos no site habitual (basta clicar em cima):


Opinião

Portuguese in Australia é o nome de um site português, aqui muito popular, pois concentra artigos de opinião, fotos, notícias várias do País e da comunidade lusa, comentários, conselhos e reportagens.
Qualquer um pode consultar o referido site visitando www.portuguese.org.au

A convite da sua responsável, uma jovem jornalista aqui radicada (em Melbourne), Cátia Nunes, aceitei escrever artigos mensais de Opinião (tipo Editorial). Em Abril/Maio já saíu o 1º e agora já está em exibição o meu 2º texto “Improvisação vs. Sistematização”.

Se forem ao site (recomendo para constatarem a qualidade do mesmo e para se certificarem das oportunidades de emprego para a Austrália), poderão procurar no “banner” que refere as rubricas, a que diz Notícias e depois é só baixar com o cursor até encontrarem o meu texto.

No final, após o Discurso do 10 de Junho, junto à Crónica, não só o primeiro Opinião (que já não está em exibição), como o 3º que só irá estar em exibição durante o mês de Julho.

Senior Card

Já sei que apareceu em Portugal e felizmente com assinalável sucesso, um quinzenário de nome Sénior, dirigido pelo jornalista Mário Zambujal.

Parece-me ser uma formidável ideia e até sob o ponto de vista comercial deverá ter o merecido êxito, uma vez que à partida, tem como garantia a publicidade feita aos produtos-alvo da população cuja idade se situa entre os 40 e os 70 anos... quiçá aqueles que são detentores do maior poder de compra!

Será?

Não sendo uma ideia original – aqui na Austrália existe um periódico (mensário) exactamente com o mesmo nome (...) – o Sénior, conta à cabeça com a prestigiada presença do Mário, que constitui, já de si, uma garantia de qualidade.

Mário Zambujal revela surpreendentemente uma especial estaleca, já que estando com 77 anos e com o nome mais do que feito, o que se esperaria dele seria uma reforma bem gozada, chinelas calçadas, em frente à televisão, passeatas por Sintra, queijadinhas e pastéis de nata...  

O autor da Crónica dos Bons Malandros, ex-redactor desportivo e co-produtor (com Carlos Cruz) do célebre “Pão Com Manteiga” (na Rádio Comercial), inicia agora uma “viagem redactorial” que eu próprio gostaria de ter tido oportunidade de lançar – tê-lo-ia feito se, em vez de ter vindo para a Austrália, tivesse permanecido em Portugal. Era esse o meu secreto intento!

Foi melhor assim!

Curiosamente, no mesmo dia em que soube da notícia do lançamento do Sénior, o estado australiano concedeu-me utilização de um Cartão Sénior – Senior Card – atribuído aos cidadãos com 60, ou mais anos de idade, e que dá alguns privilégios e vantagens em descontos de compras em diversos estabelecimentos, em passeios turísticos, nos transportes, etc.

Benfica

Todos conhecem a minha especial simpatia futebolística e clubista pela Académica de Coimbra, mas, claro está, vou estando atento ao futebol português e sobretudo, devido à “loucura” que o meu filho Ricardo tem pelos Índios da Luz, estou sempre sensível ao Benfica... ai Jesus!

O Jesus sempre ficou... O que perde fica, o que ganha (o treinador do Porto) sai... oh strange world!

Este ano doeu um pouco mais, porque se esperava que o Benfica conquistasse três títulos e afinal... zero!
O Benfica, para desespero de simpatizantes e sócios, perdeu as três competições em que estava envolvido, à semelhança do que há anos atrás sucedera com o rival Sporting! Acontece! O clube da Luz está como eu – muito bom nos preliminares, mas um desastre total nos “finalmente”! 

Talvez p’ró ano...

Nadine

Num dos anteriores fins-de-semana fomos passear a Kembla (a sul de Sydney) e fomos visitar uma amiga da Bianca, uma macedónia de nome Nadica, que adoptou (para ser mais fácil de memorizar), o afrancesado nome de Nadine.

Devo confessar que tudo quanto sei da Macedónia é que é um país participante do Festival da Eurovisão, fazia parte da clique de regiões protegidas pela antiga União Soviética e que integrava o território da ex-Jugoslávia (governado pelo ditador Tito), algures nos Balcãs, entalada entre a Sérvia, o Kosovo e a Bulgária.

Tem uma bandeira absolutamente folclórica (tipo símbolo de uma marca de óleo alimentar) e volta e meia anda tudo à estalada! Confesso que era tudo o que a minha reduzida cultura de Leste me dava de conhecimento sobre a Macedónia.

Ora digam lá se não parece o símbolo de uma qualquer marca de óleo para fritar batatas!!! (Fula?)

Hoje, sei um pouco mais do país, depois de ter conhecido a simpática e laboriosa Nadine, que sendo reformada, se entretem em casa fazendo aquilo a que no meu tempo se designava por “Lavores Femininos” e que hoje eufemísticamente se designa por diversas outras formas, para evitar o perigo do segregacionismo anti-feminista...

Nas fotografias exibo alguns trabalhos da Nadine. Espectaculares e a revelarem um especial talento de quem faz com paixão e alegria... enquanto sentada a ver televisão! (Destaque especial para um trabalho em “ponto-cruz” representando a Opera House).

Também em Kembla, eu e a Bianca demos um magnífico passeio pela praia e demos com umas estranhas defesas construídas, segundo nos explicaram, para que já depois de finda a IIª Guerra Mundial, a Austrália, (que fora duramente atacada pelos Japoneses), se pudesse defender de uma suposta eminente invasão russa!

Fartei-me de rir e claro está, fiquei a imaginar os desgraçados dos russos, que na guerra perderam quase trinta milhões de combatentes contra as forças nazis, a quererem vir para os antípodas combater mais meia-dúzia de anos para ficar com umas farripas de umas terras que na ocasião se desconhecia ainda se tinham ou não riquezas minerais que justificassem a usurpação de territórios por meio da força.

Enfim, por vezes os boatos políticos tornam-se paradigmas em que se acredita piamente e cai-se em exageros ridículos, como terá sido o caso. Organizaram-se defesas com montagem de baterias anti navais e anti aéreas que terão enchido os bolsos de quem tinha, à época, a responsabilidade de decidir a aquisição de material de guerra.

Escusado será dizer que os russos nunca vieram à Austrália!

Explicaram-me depois, que os sucessores do general que decidiu a produção e a compra de todo o material de guerra, são hoje pessoas que vivem uma vida milionária, em enormes mansões em Sydney, accionistas de Bancos e Fábricas de material de guerra, refinarias, etc.

Está tudo explicado!!!

Afinal, em todas as épocas, a humanidade confronta-se em todas as latitudes, com o embaraço dos exageros, da ganância, da hipocrisia, enfim...

Todos nós temos medo de qualquer coisa – do bicho papão, da polícia, do julgamento do Juiz, da falência, do cancro, de ficar sem uma perna, da falta de saúde, do tráfego das estradas, da morte, de Deus... e há os que têm medo de que um dia a guerra acabe!

Vai daí... há que ir alimentando o sistema!


Australia Contacto

Numa daquelas actividades do Clube Português do Frazer Park, conheci um realizador de cinema, português, com 70 anos de idade e aqui residente há mais de cinquenta anos. O seu nome é José Mariano e todos o conhecem por Zeca Mariano. Trabalha nos Estúdios da FOX que realiza filmes “americanos” muito conhecidos, como Avatar, Hobbit, Matrix e brevemente “As Vinte Mil Léguas Submarinas”.

Pois é, o nosso Zeca Mariano é o responsável pelos efeitos especiais e pela pós-produção de muita coisa desses filmes, que os americanos vêm fazer à Austrália (senão 100%, pelo menos uma bela parte), tão somente porque lhes sai mais barato filmar e pós-produzi-los aqui do que nos States!

O Zeca teve já muitos prémios e recebeu já muitos galardões do estado australiano que o reconhece como Pioneiro do Cinema Australiano.

Ficámos amigos e o Zeca contou-me que há vários anos produz para a RTP Internacional pequenos programas, reportagens e participações que passam, sem regularidade especial, na nossa televisão.

Actualmente o Zeca está a produzir semanalmente um pequeno programa com o título “Austrália Contacto”, com entrevistas e apontamentos sobre a vida da comunidade portuguesa neste enorme país.

Convidou-me a colaborar com ele em locuções off (só voz, sem imagem) e entretanto já me fez testes de imagem e referiu-me estar muito interessado em me utilizar com imagem em diversas rubricas e entrevistas futuras, pelo que em breve – espero – poderão ter-me ao vivo e a cores, na RTP Internacional – poderão ver procurando na Net em RTP Internacional e depois procurando em Australia Contacto.

No fim-de-semana de 15 e 16 de Junho vai para o ar o primeiro número em que há uma intervenção minha. Poderão ver e ouvir (horário de Lisboa), no Sábado, dia 15, às 7h45m, ou no Domingo, dia 16, às 2h30m da madrugada – um horário absolutamente simpático e apropriado não é? A RTP é mesmo uma simpatia e então tratando-se da emigração, fazem tudo por prestar um excelente serviço público... Felizmente que as peças ficam gravadas e poder-se-á sempre fazer uma consulta e revisualizar sem ser em emissão, mas através da Net!

Neste momento estou a trabalhar numa Sinopse de um possível Programa a produzir sobre detalhes da Austrália, como país receptivo à emigração, uma série com o nome genérico “Das terras do fim-do-mundo”, talvez com patrocínio da companhia aérea Emirates. Se tal vier a concretizar-se, será então possível sonhar com a possibilidade da RTP colocar o programa em antena na RTP 1... Era sensacional não era? Sonhar é fácil... vamos ver... (e quem sabe num horário mais conveniente!!!!)

De facto, o desinteresse e a forma abandalhada como os portugueses que emigraram e os seus familiares em Portugal são tratados pela entidade RTP/RDP, é confrangedora, lamentável e deveria ser até alvo de queixa por parte do contribuinte que paga, desconta e é servido com desinteresse, incompetência e má vontade.
Este e os outros governos, que supostamente deveriam exercer alguma disciplina, só estão interessados no “tacho” e na conveniência político-partidária!   

                                               O discurso:

10 de Junho – Dia de Camões
As minhas primeiras palavras são, naturalmente, de agradecimento pela V. presença, hoje e aqui, no Clube Português do Frazer Park, onde viemos comemorar o Dia de Camões, o mesmo é dizer, confraternizar e celebrar o Dia da Pátria e das Comunidades Portuguesas !
É bem verdade que um dia, quando os Romanos tentavam impor as suas legiões ao Povo Lusitano e se defrontaram com Viriato, nas terras dos montes Hermínios, para os lados de Lamego e Viseu, um chefe romano, já cansado de lutar em vão e de perder constantemente as refregas contra a estratégia de guerrilha adoptada pelos lusitanos, escreveu a César, em Roma, dizendo que na terra dos celtiberos, na Lusitânia, tinha encontrado um povo sem governo, um povo desgovernado, um povo que se não deixava governar...
Talvez ainda hoje seja assim... dois mil anos depois!
Talvez nos esteja inscrito no DNA este espírito de permanente rebeldia, de independência sem compromissos, esta arte de viver o nosso dia-a-dia, sem a preocupação de prever e planificar, privilegiando as soluções de momento, a aventura, o sonho de grandeza e o espírito de sacrifício quase implícito em tudo o que fazemos!
Talvez esta missão esteja reservada a povos de pequeno território mas... de alma grande, de vontade enorme, de espírito gigante e de inspiração divina!
Talvez por isso sejamos um povo de poetas e de tradições humanistas.
Talvez por isso falte cumprir Portugal, como dizia Fernando Pessoa.
Talvez por isso vivamos os sonhos do Quinto Império, de que talvez nos livremos, segundo rezam as previsões de Bandarra, quando um Papa Francisco, Jesuíta, estiver no Vaticano para permitir e promover a restauração da Ordem de Cristo, a fórmula encontrada então para dissimular os Templários!
Mas Nossa Senhora é a Patrona dos portugueses e o Papa Francisco já ocupa a cadeira no Vaticano.
Temos os melhores emigrantes nos quatro cantos do mundo, uma língua que é das mais faladas no planeta, nos cinco continentes, em oito países que a adoptaram como língua oficial, temos uma unidade que nos permite erguer com orgulho a voz e dizermos a quem quer que seja, que não precisamos de lições de cultura, nem de civismo, nem de democracia, podemos com um sorriso divulgar que, por exemplo, a esta terra chamada Austrália, fomos nós os primeiros ocidentais a chegar em 1520 nas naus de Cristóvão de Mendonça. Foi o que escreveu e demonstrou o australiano - Peter Trickett, após investigar, numa biblioteca de Los Angeles, um volume chamado “Beyond Capricorn”, na sequência de estudos sobre a História destas terras do sul – que é, o que aliás significa etimologicamente o termo AUSTRALIA.
Nesse tempo éramos poucos – pouco mais de um milhão de habitantes – e arriscámos dar novos mundos ao mundo, partir à aventura procurando melhor sustento, criando tecnologia e  evangelizando África, América, o Oriente e a Oceania!
Foi tarefa enorme e global que, desde logo, suscitou a inveja e a cobiça de espanhóis, holandeses, italianos e ingleses, mas que não impediu a gesta colonizadora por todas as paragens que iam sendo abençoadas pela nossa bandeira.
Ficava gente e bagagens em Cabo-Verde, no Brasil, na Guiné, em Angola, em Moçambique, na Índia, Malaca e Ceilão, em Macau e em Timor e... já não havia gente para ficar nas Terras do Sul!
Mesmo assim, chegámos às costas da Austrália e do que é hoje a Nova Zelândia. E chegámos 250 anos antes de James Cook que, como era hábito dos nossos “aliados” britânicos, entendeu chamar para a coroa inglesa a posse destas terras onde estamos hoje!
Este espírito de luta e de sacrifício, este empenho tão inspirador quanto aventureiro, acham-se gravados no livro da História da Humanidade através da vida do Herói que hoje se festeja: Luis Vaz de Camões!
Não se sabe ao certo nem onde, nem quando nasceu (supõe-se que tenha nascido em Coimbra, por volta de 1525).
Não era nobre nem de famílias abastadas, este nosso herói. Estudou no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra e tinha jeito para as letras. A sua biografia é marcada por vazios e incertezas, mas sabe-se que, ainda jovem, combateu em Marrocos, onde, em luta, perdeu o olho direito. Em Lisboa era desordeiro e manifestava inclinação por se apaixonar por mulheres casadas, o que o levou à prisão e, posteriormente, a residência fixa em Punhete – hoje a bonita cidade de Constança!
Recusando uma liberdade condicionada, inscreveu-se para ir viver na colónia portuguesa de Macau, onde desempenhou funções de administrador. Depois, demandou a Índia, e em Goa, para além de muitos amores, (isto de se ser português tem alguns desregramentos...), arranjou dívidas que o levaram de novo à prisão.
Amigos vários ajudaram-no a conseguir fundos para regressar a Portugal em 1572 (talvez com 47 anos de idade).
Nessa altura, escrevera e concluíra já o Poema Épico em dez Cantos –  Os Lusíadas –  que traz na sua atribulada viagem de regresso.
Em Moçambique sofre um acidente marítimo, mas salva a sua obra genial, património de inestimável valor cultural, expoente da nossa literatura, consagrado mundialmente. 
Luis Vaz de Camões procurou, nos Lusíadas, construir um hino à gesta lusitana, à alma portuguesa, cantando de forma grandiosa e sublime os aspectos mais destacados da História de Portugal, em especial, a célebre viagem de Vasco da Gama, em 1498, no descobrimento do caminho marítimo para a Índia.
Ainda em vida, obteve licença do jovem Rei de Portugal, Dom Sebastião, para a publicação da sua obra. Foi também Dom Sebastião, seu admirador, quem lhe concedeu uma renda (uma tença) anual de que Luis Vaz de Camões viverá com enormes dificuldades até ao final da sua vida - julga-se que em 1580, com 55 anos, quase na miséria!
Luis de Camões, não foi contudo só o poeta dos Lusíadas. Escreveu sonetos, poemas populares (letras de cantigas), discursos para políticos, peças de teatro e, talvez, à boa maneira portuguesa, muitos bilhetes de amor... talvez demais!
Mas, porventura, a maior obra por ele legada foi o privilégio e a honra de ser português, a benção de falarmos uma língua com mais de mil anos de história!
Meus amigos.
Já vão longas estas minhas palavras.
Ao terminar, não quero deixar de reiterar os meus agradecimentos pela vossa presença nesta cerimónia, nesta terra boa que nos respeita e admira.
Foi um privilégio partilhar convosco este maravilhoso 10 de Junho, em perfeita comunhão de paz e amor, tal como nos ensinou esse herói exemplar que foi, é e será Luis Vaz de Camões!    
BEM HAJAM
                                                                                  Luis Arriaga
Sydney, a 8 de Junho de 2013.        

Os artigos OPINIÃO
(1º) Opinião
Assim vai o mundo!
À medida que o tempo passa vamos envelhecendo e a verdade é que mesmo que a gente nem se dê conta, vai alargando os nossos horizontes e aprendendo um pouco aqui, outro pouco além...

Aqueles que já estão pela Austrália há mais tempo talvez se não apercebam do sossego que é viver em paz e segurança, no país a que chamam o último reduto do Paraíso na Terra!

Penso sempre nisto de cada vez que acendo a televisão para escutar os noticiários e me actualizar com o que se passa no mundo.

Ultimamente, as notícias têm sido surpreendentes no que respeita às ameaças e violências, quer provenham dos locais do costume (Iraque, Afeganistão, Paquistão, Síria, Coreia do Norte), como também dos Estados Unidos, como foi o caso há dias com as bombas terroristas na meta da Maratona de Boston, o que vitimou três pessoas e mais de uma centena de feridos.

Já imaginou o que é estar a assistir despreocupada e alegremente a uma manifestção desportiva com a participação de atletas de mais de noventa países e de repente, sem ameaças ou pré-avisos explodirem duas bombas, que de um segundo para outro podem mudar completamente a vida de uma família?

Cada vez mais, julgo que a espécie humana é estranhamente agressiva e afinal será mesmo verdade que o Homem é de natureza intrínsecamente conflitual, procurando naturalmente o conflito e a tensão.
Será que a Paz é uma ilusão e afinal um mero intervalo entre guerras?

Uma vez, um amigo chamou-me a atenção para isso e eu fiquei impressionado com o facto da História de praticamente todos os países ser feita da história de guerras, lutas, intrigas, desentendimentos, agressões, mortes e chacinas! Dê por exemplo atenção à letra do nosso Hino: “contra os canhões marchar, marchar...” Chiça!

Se Deus existe e se é de facto omnipotente e omnipresente (como consta), porque não intercede Ele de uma forma mais efectiva a favor da Paz?

Talvez a designação deste novo Papa Jesuíta, o argentino Jorge Mário Bergogli, que se auto-proclamou Francisco I – o Papa dos pobres – possa trazer aos homens de boa vontade alguma luz e que alguma dessa luz chegue aos corações dos homens da dinastia Kim da Coreia do Norte e aos corações dos homens da Alqaeda, para que a Humanidade possa experimentar e dizer então de sua justiça sobre o que é maravilhoso viver em Paz!

Nesse sentido, julgo que nunca será demais relevar a sorte que temos todos em viver num país próspero, seguro e rico, bonito, variado e com futuro para os nossos filhos e netos!

Só é pena estarmos tão longe de Portugal, mas as férias e as passagens aéreas cada vez mais em conta, lá vão resolvendo o problema... 

Fiquem bem e façam o favor de ser felizes.
  
                                                                                                                                                                                 Luis Arriaga




(3º) Opinião

Os Portugueses foram os primeiros ocidentais a chegar à Austrália!

A suspeita existia há muito e eu próprio já procurara nos Arquivos da Armada Portuguesa provas ou indícios de que os Portugueses haviam sido os primeiros ocidentais a chegar à Austrália.

De facto, há dias chegou-me por mail, uma notícia proveniente da credível Agência Reuters dando conta da comprovação feita nos Estados Unidos da América, pelo professor australiano Peter Trickett, ao investigar numa biblioteca americana de Los Angeles, dados sobre Canberra, e de ter encontrado, por mero acaso, as provas há muito procuradas.

Com efeito, os primeiros navegadores ocidentais a fazer o “achamento” (era essa a expressão que antigamente se usava) da imensa costa australiana – primeiro a norte e depois a leste, foram os marinheiros da frota de um tal Mendonça, ao serviço da corôa portuguesa, tendo cerca de 1520 a 1522 chegado ao Botany Bay (hoje a zona onde se situa o aeroporto de Sydney), isto é, cerca de 250 anos antes do inglês James Cook, o almirante da versão oficial.

Os factos baseiam-se em Portulanos (nome que era dado aos mapas e cartas de marear) desenhados por copistas franceses (normalmente nos séculos XV e XVI os copistas eram todos franceses, alemães ou italianos), e que continham desenhos perfeitíssimos da costa leste da Austrália.

Nesse tempo, o navegador português Cristóvão de Mendonça, sedeado em Malaca (a leste de Ceilão, hoje Sri Lanka), procurava em segredo, com a sua frota de quatro navios, encontrar a lendária Ilha do Ouro, descrita por Marco Polo como situando-se a sul de Java.

Curiosamente, estas terras longínquas do sul foram primeiro designadas como Terra Java.

Nos referidos Portulanos constam também elementos que fazem crer que, na ocasião, estes navegadores lusitanos tenham visitado a Kangaroo Island e no regresso  a Malaca, tenham decidido voltar pela ilha norte da Nova Zelândia.
Estas ideias são ainda reforçadas pela descoberta de utensílios e artefactos portugueses de então, (século XVI), nas costas da Austrália e Nova Zelândia.

“Para Além do Capricórnio” é o nome do livro de que se terá socorrido o Professor Peter Trickett para fundamentar as suas recentíssimas investigações, que só vêm afinal comprovar as suspeitas existentes sobre a autoria do achamento destas terras do sul – significado etimológico da expressão Austrália.

Os portugueses não terão divulgado na ocasião tal descobrimento para não arranjarem conflitos com a corôa castelhana, devido aos acordos firmados no âmbito do Tratado de Tordesilhas.

Também a pujança colonizadora dos lusitanos era manifestamente parca, uma vez que as caravelas, depois de largarem gente e bagagens em Cabo-Verde, Guiné, Angola, Moçambique, Índia, Macau e Timor, já praticamente nada, nem ninguém sobrava para colonizar a Terra Java!

Terá sido um esforço notável, próprio de gente de uma dimensão extraordinária, aquele que ainda hoje, quinhentos anos depois, nos envaidece e justifica, que com orgulho pátrio divulguemos que os primeiros ocidentais a arribarem a estas terras foram os nossos ascendentes!

Fiquem bem e façam o favor de ser felizes.
                                                                                                                                                                                  Luis Arriaga  

E pronto... por hoje é tudo! Espero que gostem e por favor dêem notícias.
Abraços, Beijos e Abreijos deste vosso dedicado amigo de sempre

Luis Arriaga 
Sydney, aos 8 de Junho de 2013.

Em breve serão colocadas as fotografias correspondentes a esta Crónica e, em princípio, dentro de dois dias as imagens ilustrarão a Crónica para uma melhor compreensão daquilo de que se fala!



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