domingo, 10 de novembro de 2013

CRÓNICAS do Fim-do-Mundo 16 - Mais um ano que passou a correr

 Parece que foi ainda ontem a entrada do ano de 2013, naquele corropio de fazer votos para o ano que ia entrar, os desejos de que fosse um bom ano, cheio de saúde, de bem-estar, de sucesso, com todos os projectos a concretizarem-se, as fotografias da entrada do ano com o fogo de artifício na fantástica ponte do porto de Sydney, com a Opera House ali ao lado, as risadas dos milhares de transeuntes anónimos que, como eu e a Bianca, voltávamos a casa tranquilos, vivendo as primeiras horas do novo ano!

Pois, realmente parece que tudo isso foi ontem, mas foi há quase um ano atrás. Quase doze meses passaram já a uma velocidade vertiginosa, mastigando, triturando sonhos, projectos, alegrias e tristezas, planos bem concebidos, cheios de timings perfeitos e cálculos pensadíssimos, rigorosos, inabaláveis! A velocidade foi tão avassaladora que tudo, ou quase tudo se perdeu, alterou, esmagou e forçosamente se modificou. Meu Deus... será sempre assim?

Estamos a entrar nos dois últimos meses do ano e já se aproxima o 2014, o ano do cabalístico 7, o sete de 2+0+1+4 que, para tanta gente, é sagrado e sinal divino de prosperidade e boa sorte! Será mesmo? Tenho de perguntar ao meu querido irmão e amigo João Fernandes.

Faço votos de que sim, para todos os meus amigos e (permitam-me a particularização), em especial para a Bianca e para mim, que passámos quase todo o ano de 2013 num precipício de sustos e problemas de saúde com múltiplas análises, testes, operações, riscos vários, internamentos, idas a consultas, e com um saldo que se crê positivo... embora sem certezas!

I’m sick of it, que é como quem diz – estou farto, não quero mais, obrigado, já chega!    

Este ano de 2013 o Natal e o fim d’ano vão ser diferentes, como esperamos também que o 2014 seja calmo, saudável, afortunado e uma verdadeira pausa nos sustos! Julgo que ambos merecemos!

Vamos passar o Natal em Kyogle, a 8 horas de Sydney, por automóvel e a 3 horas de Brisbane. Iremos pernoitar nalgum motel a meio da viagem e em Kyogle vamos ficar em casa do André Madeira, um amigo português, agora com 27 ou 28 anos e cuja última vez que o vi, tinha ele seis anitos, foi num Natal, na Amadora, em casa dos pais dele, a Guida e o Quim, meus cunhados. Ela, a Guida, irmã da minha primeira mulher, a Dulce Pereira e ele, o Quim, à época recém formado em engenharia mecânica no IST de Lisboa.

Depois, eles vieram todos para Macau viver (chi... tão longe achámos nós...), a vida foi correndo, indiferente a ventos e tempestades. A Guida separou-se do Quim e permaneceu em Macau onde hoje é proprietária de um dos mais prestigiados Infantários daquela cidade que já não é portuguesa. O Quim casou-se com uma tailandesa e tiveram uma filhota, a Maya, hoje com 20 anos e autêntica Miss Mundo, de linda, misturando a beleza lusitana e o exotismo oriental. Suponho que também vivam em Macau.

O André foi para Timor por uma temporada, fazer voluntariado após a guerra civil daquele antigo território português, onde conheceu uma simpática australiana, a Sarah, cujo pai é o maior produtor de árvores de fruto da Austrália.

A diáspora reencontra-se e a Consoada deste ano vai religar esta gente toda, mais uns quantos que se nos juntarão vindos de Lisboa. Vai ser com bacalhau, pois claro, cozinhado pela Guida à boa maneira de Portugal, com os condimentos todos, como mandam as regras e nós (eu e a Bianca) levamos os vinhos daqui de Sydney, vinhos brancos e tintos produzidos nesta magnífica terra australiana que produz já os melhores vinhos do mundo... para que se saiba! Também levamos o belo do nosso Vinho do Porto – que é lá isso de comemoração sem um Porto Ferreira?

O fim d’ano, já irá ser de novo em Sydney, aliás, perto, em Wollongong, longe da confusão, em casa de amigos e com as subidas às cadeiras com as doze passas nas mãos,como manda a tradição! Desta vez alinhamos naquela da tradição ser ainda o que era, que eu não vou cá em futebóis...

E por falar em futebol, permitam-me uma acha na fogueira: está tudo maluco com as afirmações do senhor Joseph Blatter por causa do Cristiano Ronaldo, mas eu juro-vos que não fumei nada de esquisito, ouvi o que o homenzinho disse e ele nem falou no Ronaldo. Só falou no Messi e no outro... que até podia ser o Benzema... ou o Fernando Torres... ou o Beckham! Por que raio é que, com o país em crise profunda, o povo se levanta todo preocupado com a aterosclerose do Blatter, na convicção de que ele acusava o madeirense? Não haverá por aí algum pretensiosismo colectivo? É que até o governo, através do ministro de estado Marques Guedes, decidiu repor a honradez nacional! Tá tudo maluco?

Venha o 2014 e vamos ver se a selecção do Galo de Barcelos estará presente no país-irmão para fazer de conta que está a disputar o Mundial de Futebol! Cá para mim, melhor será que nos preparemos para o pior e ficar a lamber as feridas e... ver a Suécia carimbar o bilhete para o Rio de Janeiro!

Lou Reed e algum Provincianismo do pior...

Vejo diariamente os telejornais da véspera num canal de televisão australiano (do Estado) chamado SBS, que passa uns quarenta noticiários diferentes das maiores comunidades de estrangeiros residentes aqui na Austrália – franceses, italianos, gregos, japoneses, árabes, chineses, polacos, russos, sérvios, enfim... uma data deles. Frequentemente fico a ver outros telejornais, até para, através das imagens (já que da respectiva língua nada entendo) tentar perceber sobre quais os motivos de interesse dessas comunidades e, muitas vezes, dou comigo a pensar... ah... afinal o nosso telejornal da RTP, até nem é assim tão mau!

Contudo, há dias apeteceu-me escrever para a RTP a denunciar o mau gosto e o provincianismo patêgo e saloio pelo facto de, imagine-se, em dois dias seguidos os últimos minutos do telejornal (supostamente preparado para as diferentes comunidades de portugueses espalhados pelo mundo), terem sido totalmente dedicados a homenagear o Lou Reed, um intérprete americano, de rock and roll, sem nenhuma importância assim tão relevante em Portugal, ou crucial para a cultura pop, nem sequer assim tão conhecido entre nós! Curiosamente nos outros noticiários, alguns referiram de passagem o desaparecimento do velho Reed, ex-membro dos Velvet Underground, e apresentaram por dez segundos um excerto do tema “Take a walk on the wild side”.

E fiquei a pensar por que motivo a RTP terá produzido uma sentida homenagem durante dez minutos para homenagear, durante dois dias a memória do rocker que não era português, explicando quem o influenciara, que canções gravara, com quem tocara, com que músicos, os títulos dos respectivos álbuns, as vendas atingidas, eu sei lá! Acho que os portugueses ficaram licenciados em Lou Reed  com tanto detalhe. E nós portugueses, lá longe, o que tinhamos a ver com aquilo tudo?

Não digo que nos enchessem os minutos finais dos noticiários com o divórcio daquele ex-ministro do PS que desatou à porrada à sua bela mulher, agora alcoólica, (???), ex-apresentadora da SIC, mas ao menos que tivessem feito uma justa homenagem aquando do desaparecimento há dias, do António Mourão, do “Oh tempo volta para trás”, que era conhecido, que era português e que ajudou a RTP a preencher muitas horas de emissão nos anos 60 e 70 e que faleceu triste e só, “arquivado” na Casa dos Artistas.

(Consta por aqui que o Manuel Maria Carrilho e o Paco Bandeira vão formar um duo musical:
o Duo Olho Negro...) – acho linda!!!

A mim, quer-me parecer sinceramente que a RTP está de facto a precisar de uma valente vassourada e que tipos como os que estão à frente da gestão e da informação, deverão certamente estar a candidatar-se a uma indemnização valente, tal como sucedeu ao sinistro Emídeo Rangel que veio da SIC para desestabilizar a RTP e logo a seguir saíu com uma choruda indemnização milionária.

Ou talvez (admito) eu não esteja a ver bem o problema e me faltem factores diversos na difícil equação! Talvez afinal o Lou Reed fosse candidato à Presidência da República, ou Conselheiro de Estado, ou o homem que pagava as subvenções do governo, ou, sei lá... o fornecedor de droga de alguém importante na RTP!   

Esquesitices minhas, já se vê!

O Mário Soares não está bem da cabeça. Por favor internem-no!

Dizia-se há muitos anos que quando um tipo liga o intestino grosso directamente aos miolos só sai cagada!
Julgo que será o caso de um daqueles políticos que considero ser dos principais responsáveis pela forma como o nosso país se encontra e que, pesem os factos, irá morrer sem ser julgado e criminalmente penalizado pela quantidade de trapalhices, disparates e erros absolutamente inadmissíveis e indesculpáveis como manipulou os destinos desta ditosa pátria nossa, designadamente em três áreas concretas, a saber:
- a descolonização “exemplar”;

- a “estupenda” adesão à União Europeia e sequente entrada para a zona euro;

- a quantidade de roubos, desvios e escandalosas manobras financeiras de que só a família Soares beneficiou.

Falo obviamente do Mário Soares, que suponho esteja atacado de demência senil!

Sobre ele encontrei na Internet um recente texto de uma grandiosa mulher que conheço pessoalmente, a cronista e escritora Helena Sacadura Cabral, mãe dos irmãos Portas, que sobre a arrogância e má criação de Mário Soares escreveu a 17 de Outubro o que a seguir transcrevo.  

Começa a ser preocupante a forma como um ex Presidente da República se refere a outros ocupantes do mesmo cargo e, em geral, aos políticos do seu país.
A função desempenhada no passado e a despesa que ela ainda representa para a nação deveriam impor uma certa forma de contenção verbal. Discordar é uma coisa. Enxovalhar ou difamar é outra, muito diferente.
Acresce que uma comunicação social responsável não deveria ser o veio de transmissão daquilo que mais não é do que uma triste manifestação de senilidade. À bon entendeur salut, como dizem os franceses!

Simplesmente brilhante!

Nobel da Paz
Mais uma vez me desiludiu e entristeceu o facto do Comité norueguês para a atribuição do Nobel da Paz estar perfeitamente cativo de interesses americanos.

Há uns anos atrás atribuiu o Nobel a um recém chegado à Casa Branca, sem que  então o acabado de eleger Barak Obama tivesse sequer dado provas sobre se era competente, burro como o antecessor (Bush), violento, ou equilibrado.

Em 2006, todos aguardavam que o Nobel contemplasse a corajosa Irene Sendler (na ocasião com 88 anos e ainda viva) e que sendo alemã, correra seriíssimo risco de vida durante a 2ª Guerra Mundial ajudando a salvar mais de 2500 crianças judias dos campos de concentração nazis, tendo sido presa e torturada pelo regime de Hitler. Salva por milagre, ela aguardava o reconhecimento do comité do Nobel da Paz que, entretanto em 2006, achou dever contemplar o americano Al Gore, simplesmente porque este escrevera um livro sobre o Aquecimento Global. Nem o lobby dos ambientalistas esperava tal prémio a distinguir quem, no fundo, era só conhecido por ser membro do governo yank!

Este ano, nova borrada! Todos contavam com a atribuição do Nobel da Paz à jovem paquistanesa Malala, activista dos direitos das raparigas estudarem, e que foi brutalmente atingida na cabeça num atentado organizado pelos talibans locais, só porque a rapariga entendeu e bem manifestar-se contra a chária muçulmana extremista que proíbe as raparigas de estudar e ter os mesmos direitos que os rapazes.

Seria a atribuição do Nobel da Paz à mais nova laureada da história. Seria um incentivo a todas as jovens paquistanesas e indianas. Seria uma enorme lição de coragem e seria sobretudo a melhor forma de fazer com que determinados países como o Paquistão, o Irão, o Afeganistão, o Iraque, etc. se começassem a desenvolver em pleno, pois está mais do que provado que essas sociedades completamente atrasadas e medievais só poderão acompanhar o ritmo do resto do mundo quando as mulheres tiverem os mesmos direitos, as mesmas oportunidades e as mesmas condições que são proporcionadas aos homens.

Ainda por cima, a Malala é uma jovem esforçada, que, pela sua causa, mal se pôs boa de saúde imediatamente escreveu um livro e desatou a viajar a suas expensas para apresentar a verdade dos factos, a sua tese, e espalhar a sua palavra, inclusivé nas Nações Unidas, tendo até recebido o prémio Sakharov 2013, atribuído pela União Europeia.

Pois o bendito comité norueguês decidiu entregar o distinto prémio a uma recentíssima e ainda desconhecida comissão para a destruição das armas químicas, ligada às próprias Nações Unidas e que funciona da seguinte forma: - eles acusam a quem a Rússia e a Alemanha venderam armas químicas. Depois, os Estados Unidos fazem um chavascal medonho e acusam, ameaçam e montam uma perseguição obcessiva até se chegar ao ponto de se ameaçar com a invasão do país. Depois, as Nações Unidas exigem a destruição do armamento químico e os rapazes vão lá, fazem uma listagem do material em causa, colectam os resquícios e determinam que se transportem os materiais para os Estados Unidos, supostamente os ùnicos com condições para destruirem essas armas, e fazem-no por um preço semelhante ao da venda desse material, preço que o país receptador do armamento (neste caso a Síria), já tinha pago à Rússia e à Alemanha e que agora volta a pagar para que os States o destrua...  

E foi a este comité que foi entregue o Nobel da Paz de 2013! Porreiro, não é?

Sobre Malala, o meu amigo João Paulo Diniz, escreveu oportunamente um pequeno texto que tomo a liberdade de reproduzir.

Há uma jovem Paquistanesa que há precisamente um ano foi alvejada a tiro quando seguia para a escola com outras meninas da sua idade.
Os autores dessa barbaridade foram talibans, que impuseram não querer que as jovens fossem para a escola.
Gravemente ferida, ela foi levada para Inglaterra onde, num hospital, em Birmingham, uma extraordinária equipa conseguiu operá-la e salvar-lhe a vida.
A jovem de quem falo chama-se Malala Yousafzai, acabou de completar 16 anos, por sinal no mesmo dia em que falou nas Nações Unidas, em Nova York. Aí afirmou, com a maior simplicidade, que "uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A Educação é a única solução".
Entretanto, Isabel II já convidou Malala para uma recepção no Palácio de Buckingham.
Hoje, o Parlamento Europeu atribuíu a Malala o Prémio Sakharov, destinado a distinguir pessoas ou organizações que se batem pela Liberdade e pelos Direitos Humanos.
Amanhã de manhã, a Academia Nobel vai anunciar o Prémio Nobel da Paz de 2013. Malala é uma das candidatas. E eu estou aqui a desejar que o notável exemplo de coragem e determinação de Malala mereça essa grande honra. Porque é com pessoas como ela - e só tem 16 anos, meu Deus! - que o mundo pode ser um lugar melhor.
E, haja o que houver, desde já fico à espera de um encontro entre duas grandes figuras deste século: Malala... e o Papa Francisco! Que Deus nos dê saúde para sermos testemunhas desse momento!! 

Pois é meu caro João Paulo, estávamos todos equivocados e pelos vistos, o Comité norueguês decidiu, mais uma vez, de uma forma bizarra e direi mesmo de forma suspeita! Cést la vie!

Com a minha recente Hospitalização...

...muita coisa se passou e eu sem poder controlar a minha vida, os meus timings, e os meus hábitos! Chiça... foi azar!

Quando voltei a casa, a 20 de Outubro, (e já vos escrevi a dar conta dos tormentos todos), tinha à minha espera 352 mails e 577 mensagens de Facebook. No mínimo teria de os ver e ler todos e responder à maioria, tarefa demorada e cansativa, mas que agradeço do coração, e que mais uma vez provou (se é que isso era necessário...), que a amizade é uma força maravilhosa, dinamizadora, poderosa e desconcertante!
Essa cadeia fraternal atingiu vários países, saltou muralhas e fronteiras e veio de Portugal, do Brasil, de Moçambique e até do Bangladesh, onde está neste momento um amigo íntimo de há mais de 45 anos, o Ismail Seedat, o líder da comunidade muçulmana de Moçambique, meu ex-colega de liceu e amigo de incontáveis farras desse tempo maravilhoso que já não volta mais!

A todos o meu comovido OBRIGADO! Deus é grande!
Mas a doença e a hospitalização forçaram-me a perder algumas coisas já agendadas e por mim desejadas e muito esperadas, designadamente:
- a comemoração dos 100 anos da Marinha de Guerra da Austrália que reverteu num majestoso espectáculo de três dias nas águas do porto de Sydney, com a visita do Príncipe Harry da Grã-Bretanha, a visita de cerca de dois milhões de forasteiros, a presença de 40 vasos de guerra da Armada australiana, mais de 8.000 marinheiros a bordo e a presença de vasos de guerra de 8 países amigos, designadamente Veleiros de grande porte, provenientes da Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Índia, Nigéria, Japão, China e Coreia. Pena que Portugal não tivesse podido destacar a Sagres que teria feito uma excelente figuraça e ainda por cima, pelo facto de termos sido nós os primeiros ocidentais a demandar por mar estas paragens. Foi o maior evento popular desde a abertura dos Jogos Olímpicos do Ano 2000. No final houve um feérico fogo de artifício (transmitido pela televisão) muito melhor que os habituais fogos de final de ano. Adorava ter por ali andado a fotografar os navios, a gente, o fogo (fireworks), mas já disse à Bianca: “ok, fica para daqui a 100 anos aquando dos 200 anos da Armada Aussie!” – ela riu-se e espero que não tenha pensado que estava a falar a sério!

- o outro evento, ocorreu a 20 de Outubro e foi o 40º aniversário da iconográfica Opera House, inaugurada com a presença da Rainha Isabel IIª (Elizabeth, The Second). Houve festejos múltiplos, sendo que o mais impressionante foi, nessa noite, um show de luzes sobre a estrutura do magnífico edifício que fica a uma centena de metros da Ponte – Sydney Harbour Bridge. Muita gente, muitos artistas, muitas reportagens e... muita pena minha de lá não poder ter estado! Paciência...e agora não estou a brincar...conto lá estar daqui a dez anos aquando do cinquentenário da Opera House. Até lá sai-me a Sorte Grande e alugo um voo charter e trago todos os meus amigos a Sydney, para juntos assistirmos às comemorações! Hein? E esta? Na construção deste edifício, que é talvez o símbolo maior da cidade de Sydney, participaram centenas de portugueses, segundo documenta um documentário extraordinário realizado pelo meu particular amigo Zeca Mariano, realizador dos Estúdios Fox, aqui residente há mais de 50 anos e com quem tenho a honra de colaborar (como já vos contei), fazendo as vozes off no Programa “Australia Contact” que o Zeca realiza e produz mensalmente para a RTP.

- Também durante a minha estadia nos Hospitais casou em Lisboa, no dia 5 de Outubro, o meu afilhado Pedro Mendes, filho dos meus Compadres Sérgio Abrantes Mendes e Fátima Mendes. O Sérgio (Juiz na Relação de Évora),  já me contou por alto que o casamento foi excelente e que o copo d’água terá decorrido com o maior esplendor junto da estátua do Cristo-Rei. Adorava ter ido para dar um apertado e comovido abraço a esse meu afilhado de baptismo com quem privei momentos inesquecíveis. Diz-me o Sérgio que o Pedro escolheu uma noiva lindíssima, polaca, com um nome impronunciável e que ele conheceu quando trabalhou em Varsóvia no Pão d’Açucar lá do sítio. Felicidades aos noivos, muita saúde e filhos... que é o que o Ocidente precisa!!!

Paradoxo Dialético

Uma das coisas que mais me diverte são os Paradoxos e algumas intersecções da língua com a matemática. Há dias, a Bianca trouxe-me um desses Paradoxos que me divertiu muito e que passo a contar-vos:

“A frase seguinte é falsa.

 A frase anterior é verdadeira”

Ah Ah...  e afinal, em que ficamos? A mim o resultado parece-me o de um discurso de político: ambas as frases são falsas!


Fait-Divers

Há dias, vi um anúncio de uma imobiliária aqui de Sydney, que anunciava estar à venda a vivenda mais cara do mundo, exactamente aqui em Sydney – por 600 milhões de dolares. Se eu estivesse em boas condições físicas, teria desafiado a Bianca e metia-me ao caminho, cheio de curiosidade para ir ver o casarão. Alugava um carro de luxo, vestia-me de árabe e aparecia com uma “intérprete” que faria de conta traduzir para árabe as explicações que certamente muito solicitamente os vendedores iriam querer dar ao potencial comprador. Faço ideia o luxo e a soberba de tal casuncha!

Para os apreciadores da velha música dos Anos 60, devo dizer que já está à venda um novo álbum do Paul McCartney, lançado na semana passada e que o velho Beatle gravou aos 72 anos. Chama-se NEW e devo dizer que fiquei admirado com a estaleca e a energia, a inspiração do Paul e o som tão semelhante ao dos Beatles. Extraordinário! Segundo o Paul, em entrevista reproduzida aqui na Austrália, ele lamentou-se do facto de não ter tido ao seu lado o eterno companheiro John Lennon, que era de facto quem emprestava a centelha divina do génio musical e poético que o caracterizava. Ainda assim, vale a pena ouvir o novo trabalho do velho senhor. Aos 72 é obra!

O nome de Portugal agora vai aparecendo quase todos os dias nas televisões australianas, embora, nem sempre pelas melhores razões!

O Surf tem sido uma quase constante e ainda por cima com as melhores referências por parte de um surfista australiano que encantado com o Guincho e com a Nazaré fez múltiplos elogios ao mar, às praias e sobretudo às gentes portuguesas! Curiosamente sobre a Ericeira – supostamente a “capital do surf” em Portugal, como a malta gosta de referir – nem uma só palavra!

Cristiano Ronaldo e José Mourinho são presenças constantes nos noticiários, ou mostrando os golos do craque, ou mostrando as birras do treinador setubalense, sempre assumidamente convencido de ser inultrapassável e invencível...

Ultimamente voltou a falar-se quase diariamente daquela deprimente obcessão do casal McCann no sentido de continuar a defender a telenovela do rapto da Maddie McCann! A mim, que conheci bem o caso e até fui porta-voz do Inspector da Judiciária Dr. Gonçalo Amaral, faz-me aflição ir seguindo as “estórias” inventadas pelos pais da criança, quando eles bem sabem o destino que a miúda teve...

Só lamento que o Gonçalo se não encha de coragem e não vá a uma televisão contar o que sabe e dizer até, onde param os restos mortais da miúda. Não me cabe a mim contar o que sei e pela minha parte só fui porta-voz do homem a quem uma série de decisões erradas por parte de uma jovem juíza, inexperiente e manipulada, permitiu cair num tremendo disparate que foi “acabar” com a liberdade de expressão e que eu, como porta-voz (já que o Gonçalo Amaral estava proibido de falar sobre o assunto) contestei publicamente, chamando a atenção para o desrespeito à Constituição. Esse erro foi já reparado mediante decisão após recurso intentado e ganho pelo Gonçalo.

Mas – se me estás a ler Gonçalo – peço-te: acaba de vez com esta encenação e revela ao mundo o que sabes, reabre o processo em Portugal, acaba com as investigações patetas que vão alimentando a ideia sórdida do rapto, que afinal terá sido realizado por alguém que já faleceu... Enfim... tudo “estórias” que só têm um objectivo – alimentar a gula insaciável daquele casal que transformou a morte da filha em fonte de rendimentos.

Termino com a referência aos muitos incêndios (bushfires), que devastaram na semana passada algumas zonas circunvizinhas de Sydney, designadamente as Blue Mountains e um bairro relativamente próximo de nossa casa – Balmoral. Arderam mais de duzentas casas e milhares de pessoas ficaram sem nada.

Porém, a rapidíssima resposta da comunidade, a rápida resposta dos Seguros e a rápida resposta do governo australiano, presente na 1ª linha desde o 1º momento, com o 1º ministro falando com as vítimas, reconfortando-os e conversando com os bombeiros, tudo colmatou e hoje já ningém está nem ao relento, nem sem uma solução económica. Curiosamente nas imensas entrevistas realizadas pelos vários canais televisivos, todos se comportavam com um civismo incrível, sem críticas dramáticas, sem choros, sem desesperos, na maior das calmas. Uma série de restaurantes deslocaram para os diversos locais das chamas carrinhas carregadas de comida para servirem gratuitamente quem se quisesse servir e alimentar-se a qualquer hora do dia e da noite. O único indivíduo que vi chorar foi o chefe dos bombeiros quando dizia da sua frustração em não conseguir socorrer a todos e não conseguir salvar os bens de todos os que ficaram sem casa. O Exército de Salvação organizou de imediato uma formidável acção por toda a Austrália e numa semana providenciou mobílias, electrodomésticos, loiças, brinquedos, roupas, etc. para todas as famílias vítimas das chamas.

Não fora a tragédia e o que se lamenta, eu diria que foi digno de se ver e a forma como esta gente reagiu e de imediato se colocou de pé! Grande exemplo e grande gente!

Dr Gorbatov

A 23 de Outubro tive uma última intervenção cirúrgica ao meu olho esquerdo. Não sendo possível eu deslocar-me de autocarro, a Bianca decidiu levar o automóvel para a baixa (a CBD de Sydney) e deixou o carro num parqueamento junto do consultório por três horas. Ao fim pagou 90 dólares, i.e. perto de 80 euros pelo estacionamento de três horas! Aqui não há cá excepções e se alguém estaciona e prevarica na baixa tem mesmo de “entrar com o bilhete”!

Mas tudo ficou compensado com a fabulosa notícia que o médico nascido na Rússia, professor universitário em Sydney, tinha para me dar. Depois de muitos testes e análises, ele deu-me os parabéns e disse-me que, salvo algum acontecimento médico inesperado, eu me tinha safo e a recuperação pelas intervenções cirúrgicas tinham decorrido de tal forma que a partir daqui o olho esquerdo estava salvo e só iria fazer periodicamente uma manutenção com laser. Em princípio, portanto salvei a vista e não irei cegar do meu olho esquerdo!

Camões... não te vou imitar! Não tenho veia para isso!

Durante a viagem de carro, de regresso a casa, sem a Bianca ver, chorei de alegria, baixinho, para não a perturbar e agarrei-lhe com força a mão disponível da condução do carro e em segredo agradeci a Deus e ao meu Anjo da Guarda, a Bianca, a quem ficarei eternamente agradecido.

Hoje, dia 2 de Novembro vêm cá a casa almoçar os meus padrinhos de casamento, A Estela e o Fernando Ferreira, pessoas que muito estimo e de quem muito me orgulho pelo estatuto moral e cívico que têm. Em Timor o casal está a terminar um orfanato e um infantário que ofereceram à população e na Tanzânia estão a construir para a população um Hospital, um orfanato e uma escola secundária!

É verdade – há pessoas assim – Deus é grande e eles são o exemplo perfeito! BEM HAJAM Fernando e Estela por existirem!

Por hoje é tudo. Saúda-vos este vosso amigo desta abençoada terra dos cangurus e dos koalas.


Luis Arriaga – Sydney, aos 2 de Novembro de 2013.

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