Estela e Fernando Ferreira |
Antes
da viagem, o meu inestimável e muito prezado amigo João Paulo Diniz, agora
residente na Malveira, profissional com um passado riquíssimo em inúmeros
trabalhos de sucesso feitos para a Radiodifusão Portuguesa, avisara-me que em
Sydney eu iria encontrar-me com um português notável, residente há uma data de
anos na Austrália, dono de uma das maiores empresas deste país, homem poderoso,
mas de humildes origens, beirão ainda com pronúncia marcada da zona de Viseu –
um tal Fernando Ferreira – um “gajo porreiro”, segundo as palavras credíveis do
próprio João Paulo.
Cá
chegado e instalado, telefonei ao Fernando Ferreira a combinar um encontro e
logo se acertou uma data, um jantar e pelo tom compreendi de imediato que a
pessoa correspondia à descrição do João Paulo – um gajo porreiro!
Jantar
combinado para um dos mais elegantes restaurantes da baixa de Sydney, a que
eles chamam de CBD – central business
district. Cabe aqui explicar que os americanos chamam à baixa de uma
qualquer grande cidade “down town”, mas, cada vez que aqui eu referia tal
expressão, os australianos emendavam-me sempre, dizendo com um sorriso, hey
mate, isso é na América, aqui, na Austrália “down town” é CBD! Eles não gostam
de confusões e apreciam distinguir-se dos americanos que consideram ser todos
uns cowboys...
Encontrámo-nos
no Steel, rigorosamente às 6h45m e feitas as apresentações, fizémos as nossas
escolhas e eu, como sempre fugi para algo que se assemelhasse ao bacalhau, a
Bianca escolheu, como invariavelmente um prato de salmão, a Estela, a
lindíssima e elegantérrima esposa do Fernando escolheu outro prato de peixe e o
Fernando escolheu o mesmo que eu! E fartámo-nos de conversar, a noite inteira e
só não ficámos mais tempo porque ambos tinhamos deixado os carros em parques de
estacionamento que aqui encerram à meia-noite e encerram mesmo, sem apelo nem
agravo – quem foi buscar o carro, foi, quem não chegou a tempo... volte no dia
seguinte! Ah vais a pé para casa? Temos pena!
E
agora, permitam-me que vos fale deste enorme português, vertical, de coragem,
admirável, cidadão exemplar, dono de uma das maiores 500 empresas do país – a
Wideform – que é neste momento a maior empresa de cofragem do país, responsável
pela cofragem (revestimentos e estruturas de aço para a construção das
fundações e crescimento das estruturas de todos os prédios, dos pequenos aos
mais enormes edifícios), de todas as grandes construções. Transcrevo uma
entrevista por ele concedida.
Fernando
Ferreira nasceu
numa aldeia no sopé da Serra do Caramulo em 1946 (há 66 anos). Em 1970 (com 24
anos), emigrou para a Austrália, país onde trabalhou como ajudante de pedreiro.
Mais tarde, fundou uma empresa de construção civil que, hoje, é considerada uma
das 500 maiores empresas privadas da Austrália. Em entrevista, o dono da
empresa que construiu a cidade olímpica dos Jogos de Sydney em 2000 considera
que em Portugal se gasta mais para se fazer mal.
O
empresário português começou por falar das diferenças nas construções que se
fazem na Austrália e em Portugal. Para Fernando Ferreira, a construção na
Austrália é relativamente rápida. Um prédio normal com 30 a 40 apartamentos é
construído no máximo em 12 meses, desde o início das escavações até terminarem
a construção. Isto porque na Austrália os meios de construção são rápidos, as
obras são muito programadas, há uma exigência muito grande. E dá um exemplo: a
obra que a sua empresa está a promover e a construir em Wollongong, um campo de
golfe e condomínios, uma obra de 87 milhões de euros com cerca de 40 mil metros
quadrados de área de construção vai levar no máximo 18 meses a construir. Na
Austrália é tudo à base de subempreiteiros e de empresas especializadas. Existe
uma gestão de obra muito rigorosa bem como uma programação que tem de ser
cumprida e talvez aí as coisas sejam mais rápidas do que em Portugal. Apesar de
que Portugal está a melhorar muito, já se constrói mais rápido, disse.
Quanto
às diferenças nos métodos de promoção imobiliária, Fernando Ferreira considera
que, na Austrália, os projectos são vistos pela sua qualidade e não por quem
está atrás do projecto. Em Portugal, quando tentou desenvolver alguns
projectos, não aconteceu isso. Teve alguns que não foram aprovados e não sabe
porquê. E depois muitos projectos semelhantes aos seus foram aprovados por
outros investidores. Aí é que reside a grande diferença: há regras na
Austrália, estudos muito rigorosos e os projectos são aprovados desde que sejam
cumpridas as regras e te-nham qualidade e respeitem o plano de pormenor.
Sobre
a aprovação de projectos de construção naquele país, o empresário afirma que
eles dependem da dimensão do projecto. Há regras de estudos ambientais que têm
de se fazer e tudo isso leva tempo. Por exemplo, no projecto de Wollongong
surgiram problemas quando encontraram pássaros de migração. Tiveram de criar um
‘habitat’ para eles e fazer um plano de pormenor para aquela zona. Há projectos
que levam mais tempo que outros, depende da complexidade, mas de uma forma
geral é mais rápida do que em Portugal. Para justificar esta afirmação,
Fernando Ferreira diz que na Austrália sabem, quando negociam um terreno, o que
podem construir lá. Em Portugal, as regras são muito variáveis, basta ir ao
‘Google Earth’ e ver que as cidades portuguesas são uma mistura, encontram-se
parques industriais junto de habitações. Na Austrália isso não acontece:
existem zonas próprias onde se pode construir residências, condomínios e zonas
industriais. Essas definições tornam os processos mais rápidos.
Na
opinião do empresário, o sucesso nesta área obedece a regras. Há cerca de
trinta anos, quando entrou na área do imobiliário, foi a um seminário e
disseram-lhe que havia três regras fundamentais para ter sucesso. Era a regra
três + três: local, local, local e qualidade, qualidade, qualidade. E só a
qualidade é que vende. Se não vende é porque não tem qualidade. Em Portugal acontece
muito, projectos com grande qualidade não serem aprovados e os com menos
qualidade terem aprovação. Por isso encontram-se projectos lindíssimos em
arquitectura mas com espaços verdes que não são cumpridos e ao lado de aterros.
Na Austrália isso não acontece, um prédio só tem licença de habitação depois de
ter as árvores que estavam no plano: se faltar uma pode não obter a licença.
Sobre
o mercado imobiliário daquele país, o empresário diz que, neste momento, o
mesmo se encontra com uma pequena quebra, mas o que é bom continua a vender e
daqui a dois anos irá recuperar.
Metade
dos trabalhadores da sua empresa são portugueses. Mas, acrescenta, tem
empregados de mais de 15 nacionalidades. O empresário tem levado muitos
portugueses para a Austrália porque, disse, lá existe muita falta de
mão-de-obra. O país tem uma taxa de desemprego muito baixa, em trinta anos a
actual é a mais alta.
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OK!
Este foi o homem que eu conheci! Mas a coisa não fica por aqui! A sua mulher,
portuguesa do Porto, originária salvo erro de Tondela, Estela Ferreira, é
actualmente Embaixadora da Boa Vontade, um cargo ligado às Nações Unidas e
ambos têm desenvolvido uma formidável cooperação com Timor, através do apoio a
múltiplas obras pequenas e grandes por todo o Timor, não só em Dili. Porém, em
Dili, o casal Ferreira está a construir o maior Hotel da cidade, um magnífico
projecto de 5 estrelas e que a partir do próximo ano servirá para apoiar o
turismo daquele novo país.
São
amigos íntimos do Nobel da Paz, o Dr. Ramos Horta, com quem talvez seja
possível eu, por intermédio deles, vir a encontrar-me para apresentar o meu
Ensaio “Será a Paz uma Ilusão?”, suporte científico da minha tese
universitária, no âmbito do doutoramento que cheguei a iniciar em Lisboa, na
Universidade Lusófona e que tive de interromper devido à barracada da
licenciatura manhosa do Miguel Relvas... Coisas à portuguesa... e falavam eles
do Sócrates! (Confesso com grande desilusão: é tudo a mesma grande merda!!! –
desculpem-me o comentário!).
Claro
que combinámos voltar a encontrar-nos e entretanto, porque já propus casamento
à Bianca e ela aceitou, aproveitámos a convidá-los para o nosso casamento que
vai ocorrer a 13 de Outubro, um sábado. O Fernando e a Estela serão nossas
testemunhas. Aqui, segunto nos informou o celebrante – Tim Addison, natural da
antiga Rodésia e conhecedor de Moçambique, onde viajou pelas cidades da Beira e
de Lourenço Marques – (onde aprendeu e recordou “um frango com piri-piri”), são
precisas quatro testemunhas oficiais.
29
de Agosto, os meus 60 anos
Entretanto
constipei-me... eh pá... sucede aos melhores atletas... pronto, mas estou a
melhorar e mesmo sem aspirinas a coisa vai ao sítio!
Em
casa de quem vivemos, o pai do dono da casa é um velhote filipino, patusco, bem
disposto e muito conhecedor da história colonial “escrita” pelos espanhóis e
devo dizer que a única herança que ele lhes abona é terem deixado por aquelas
paragens a palavra de Cristo, o Cristianismo e a fé católica., Quanto ao mais
(e a muitas palavras espanholas naturalmente herdadas, como “trabajo”,
“carpintero”, “quaresma” e “cabron”), ele e a generalidade dos filipinos não
gostam dos nuestros hermanos, mas... sabem bem distinguir entre portugueses e
espanhóis!
No
meu dia de anos, para além de uma enorme moldura bonita, para quatro grandes
fotografias, ele fez questão de me oferecer uma leitura de mãos e... (bom...
não vou contar tudo, senão é uma seca dos diabos), acabou por me dizer que
ainda vou ser muito rico, porque tenho a fortuna inscrita em ambas as mãos. A
Bianca será a minha última mulher (de facto, espero que à quarta seja de
vez...) e que vou viver até aos 90 anos! Ah grande Austrália, vais ter de me
aturar por mais trinta anos!
A
Bianca teve de trabalhar, mas passei o dia no computador à conversa por mail e
por skype, com muitos amigos em Portugal, que felizmente ainda me recordam e
guardam de mim as melhores recordações! Aqueles que não têm saudades minhas,
que se não lembram de mim, que não me ligam e que até me querem longe... a
esses também quero bem, não lhes desejo mal nenhum... até lhes desejo um bem
grande! Que Deus abençoe a todos!
À
noite, fomos com a filha da Bianca, a Roxy (de 22 anos) e o namorado, Joshua
Szabo (de origem húngara), jantar a um restaurante giríssimo – o Hog’s Breath
Cafe – cadeia de restaurantes que se instala em antigas garagens abandonadas,
transformando-as, decorando-as de uma forma ligeira e com muita graça, como se
as instalações fossem “possilgas de luxo” e onde os suínos tratam os homens com
alguma dureza, ensinando-as a portarem-se bem, com dísticos do género “não
mastigues de boca aberta”, “não saias sem pagar a conta”, “os vegetarianos são
bem vindos, mas aqui terão de comer carne”, “Vê se utilizas convenientemente os
talheres”, etc. Só se come carne (curiosamente não há carne de porco, como
seria de esperar à 1ª vista (...), só carne de vaca, da melhor, múltiplas
apresentações e receitas, serviço esmerado, e caro... chiça... muito caro, com
cada refeição (sem sobremesa e sem vinho) à volta de 40 euros!
De
regresso a casa, houve sessão de Karaoke e todos fizeram o gostinho às cordas
vocais! A Bianca surpreendeu cantando um fado! Wow... fiquei deslumbrado, esta
mulher é uma caixinha de surpresas!
Depois,
bom depois, recolhemos aos aposentos e os relatos terminam pudicamente por
aqui...
Como
afirmei categoricamente a muitos dos amigos, agora sou finalmente um
SEX...agenário, ou talvez um SEX...asneirário, dependendo tal coisa da
aplicação do tão badalado e controverso Acordo Horto-Gráfico... o das
Hortaliças!!!
Vamos
lá a ver como vai isto correr até aos 90!
Para
já estou a aguardar a reunião com o Dr. Ramos Horta e estou certo, vou conhecer
um homem de tremenda dimensão humana e intelectual. Sintir-me-ei orgulhoso e
obviamente prometo relatar-vos o evento!
Até
lá, fiquem bem e divirtam-se, aproveitando os últimos furores de Verão. O
Inverno anuncia-se rigoroso, não tanto pelos frios, mas mais pela instabilidade
social que fatalmente vai “colorir” o panorama em Portugal! Até ao final do ano virão os meses mais
difíceis e onde a crise e o desemprego se farão sentir... Boa Sorte e FFFFORÇA!
Sydney,
aos 30 de Agosto de 2012.
Luis
Arriaga
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